O ESPORTESNET apresenta um pouco da história dos torneios mundiais de clubes
O Mundial de Clubes é o ápice do futebol interclubes, onde os campeões continentais se enfrentam para decidir quem é o melhor do planeta. Desde a Copa Rio de 1951, reconhecida pela FIFA como o primeiro torneio mundial de clubes, até os formatos mais recentes, a competição carrega uma rica história de glórias, rivalidades e momentos inesquecíveis. Neste artigo, o ESPORTESNET detalha cada edição, seus vencedores e os craques que brilharam.
Copa Rio 1951: O grito do Palmeiras e o início da era mundial
A Copa Rio de 1951 marcou o pontapé inicial na história dos torneios mundiais de clubes. Organizada no Brasil, com a chancela da FIFA, a competição reuniu grandes equipes da Europa e da América do Sul. O Palmeiras foi o grande campeão, superando gigantes do futebol europeu e sul-americano, e gravando seu nome como o primeiro campeão mundial de clubes. Este torneio pioneiro estabeleceu as bases para o que se tornaria uma das competições mais prestigiadas do calendário futebolístico.
A era da Copa Intercontinental: Europa vs. América do Sul
Por muitos anos, o Mundial de Clubes foi representado pela Copa Intercontinental, disputada entre o campeão da Copa Libertadores da América e o campeão da Liga dos Campeões da Europa. Esta fase da competição foi palco de duelos épicos, repletos de emoção e de confrontos entre diferentes estilos de jogo. Equipes brasileiras, como Santos (com Pelé), Flamengo e Grêmio, tiveram grande destaque, conquistando títulos e consolidando a força do futebol sul-americano. A competição, que muitas vezes era decidida em jogos de ida e volta, proporcionava um verdadeiro embate entre os continentes.
A chegada do formato FIFA: Um mundial mais abrangente
A partir dos anos 2000, a FIFA assumiu a organização do Mundial de Clubes, ampliando o formato para incluir campeões de todos os continentes. Essa mudança trouxe mais diversidade à competição, com a participação de clubes da Ásia, África e Concacaf, tornando o torneio verdadeiramente global. Clubes como Corinthians, São Paulo e Internacional brilharam neste novo formato, levantando a taça e mostrando a hegemonia brasileira em alguns momentos. A expansão do torneio também abriu as portas para novos talentos e para o reconhecimento de ligas menos badaladas.
Todos os campeões mundiais de clubes: Da Copa Rio aos dias atuais
Confira a tabela completa com todos os campeões, vices, terceiros colocados e os artilheiros de cada edição do Mundial de Clubes, incluindo a histórica Copa Rio de 1951. Uma verdadeira enciclopédia para os amantes do futebol!
Ano
Campeão
Vice-Campeão
3º Lugar
Artilheiro (Gols)
Clube do Artilheiro
1951
Palmeiras (BRA)
Juventus (ITA)
Vasco (BRA)
Liminha (8)
Palmeiras (BRA)
1960
Real Madrid (ESP)
Peñarol (URU)
Ferenc Puskás (3)
Real Madrid (ESP)
1961
Peñarol (URU)
Benfica (POR)
Ernesto Ledesma (3)
Peñarol (URU)
1962
Santos (BRA)
Benfica (POR)
Pelé (5)
Santos (BRA)
1963
Santos (BRA)
Milan (ITA)
Pelé (3)
Santos (BRA)
1964
Internazionale (ITA)
Independiente (ARG)
Sandro Mazzola (2), Mario Corso (2)
Internazionale (ITA)
1965
Internazionale (ITA)
Independiente (ARG)
Sandro Mazzola (1), Joaquín Peiró (1), Mario Corso (1), Armando Benítez (1)
Internazionale (ITA), Independiente (ARG)
1966
Peñarol (URU)
Real Madrid (ESP)
Pedro Rocha (2)
Peñarol (URU)
1967
Racing (ARG)
Celtic (ESC)
Juan Carlos Cárdenas (2)
Racing (ARG)
1968
Estudiantes (ARG)
Manchester United (ING)
Juan Ramón Verón (2)
Estudiantes (ARG)
1969
Milan (ITA)
Estudiantes (ARG)
Nestor Combin (2)
Milan (ITA)
1970
Feyenoord (HOL)
Estudiantes (ARG)
Joop van Daele (1), Ove Kindvall (1), Ricardo Fortunato (1), Carlos Pachamé (1)
Feyenoord (HOL), Estudiantes (ARG)
1971
Nacional (URU)
Panathinaikos (GRE)
Luis Artime (3)
Nacional (URU)
1972
Ajax (HOL)
Independiente (ARG)
Johnny Rep (2)
Ajax (HOL)
1973
Independiente (ARG)
Juventus (ITA)
Ricardo Bochini (1)
Independiente (ARG)
1974
Atlético de Madrid (ESP)
Independiente (ARG)
Rubén Ayala (1), Vicente Fernández (1), Francisco Galán (1)
Atlético de Madrid (ESP)
1975
Não disputado
1976
Bayern de Munique (ALE)
Cruzeiro (BRA)
Gerd Müller (2)
Bayern de Munique (ALE)
1977
Boca Juniors (ARG)
Borussia Mönchengladbach (ALE)
Darío Felman (2), Roberto Mouzo (2)
Boca Juniors (ARG)
1978
Não disputado
1979
Olimpia (PAR)
Malmö FF (SUE)
Alicio Solalinde (1), Osvaldo Aquino (1)
Olimpia (PAR)
1980
Nacional (URU)
Nottingham Forest (ING)
Waldemar Victorino (1)
Nacional (URU)
1981
Flamengo (BRA)
Liverpool (ING)
Zico (2)
Flamengo (BRA)
1982
Peñarol (URU)
Aston Villa (ING)
Jair (1)
Peñarol (URU)
1983
Grêmio (BRA)
Hamburg (ALE)
Renato Gaúcho (2)
Grêmio (BRA)
1984
Independiente (ARG)
Liverpool (ING)
José Percudani (1)
Independiente (ARG)
1985
Juventus (ITA)
Argentinos Juniors (ARG)
Michel Platini (1), Éder (1)
Juventus (ITA), Argentinos Juniors (ARG)
1986
River Plate (ARG)
Steaua Bucareste (ROM)
Antonio Alzamendi (1)
River Plate (ARG)
1987
Porto (POR)
Peñarol (URU)
Rabah Madjer (1)
Porto (POR)
1988
Nacional (URU)
PSV Eindhoven (HOL)
Santiago Ostolaza (2)
Nacional (URU)
1989
Milan (ITA)
Atlético Nacional (COL)
Marco van Basten (2)
Milan (ITA)
1990
Milan (ITA)
Olimpia (PAR)
Frank Rijkaard (1), Giovanni Stroppa (1)
Milan (ITA)
1991
Estrela Vermelha (IUG)
Colo-Colo (CHI)
Vladimir Jugović (2)
Estrela Vermelha (IUG)
1992
São Paulo (BRA)
Barcelona (ESP)
Raí (2)
São Paulo (BRA)
1993
São Paulo (BRA)
Milan (ITA)
Toninho Cerezo (1), Müller (1)
São Paulo (BRA)
1994
Vélez Sarsfield (ARG)
Milan (ITA)
Omar Asad (1)
Vélez Sarsfield (ARG)
1995
Ajax (HOL)
Grêmio (BRA)
Patrick Kluivert (1)
Ajax (HOL)
1996
Juventus (ITA)
River Plate (ARG)
Alessandro Del Piero (1)
Juventus (ITA)
1997
Borussia Dortmund (ALE)
Cruzeiro (BRA)
Zé Carlos (1), Fredi Bobic (1), Michael Zorc (1)
Cruzeiro (BRA), Borussia Dortmund (ALE)
1998
Real Madrid (ESP)
Vasco (BRA)
Raúl (1)
Real Madrid (ESP)
1999
Manchester United (ING)
Palmeiras (BRA)
Roy Keane (1)
Manchester United (ING)
2000
Corinthians (BRA)
Vasco (BRA)
Necaxa (MEX)
Edílson (2), Romário (3), Nicolás Tagliani (2)
Corinthians (BRA), Vasco (BRA), Necaxa (MEX)
2001
Bayern de Munique (ALE)
Boca Juniors (ARG)
América (MEX)
Stefan Effenberg (1)
Bayern de Munique (ALE)
2002
Real Madrid (ESP)
Olimpia (PAR)
Al-Hilal (ARA)
Ronaldo (1)
Real Madrid (ESP)
2003
Boca Juniors (ARG)
Milan (ITA)
Al-Ahly (EGI)
Jon Dahl Tomasson (3)
Milan (ITA)
2004
Porto (POR)
Once Caldas (COL)
Deportivo Saprissa (CRC)
Maniche (1)
Porto (POR)
2005
São Paulo (BRA)
Liverpool (ING)
Deportivo Saprissa (CRC)
Amoroso (2), Peter Crouch (2), Wansley (2)
São Paulo (BRA), Liverpool (ING), Deportivo Saprissa (CRC)
Lionel Messi (2), Adriano (2), Kashiwa (1), Daniel (1)
Barcelona (ESP), Kashiwa Reysol (JAP)
2012
Corinthians (BRA)
Chelsea (ING)
Monterrey (MEX)
Paolo Guerrero (2)
Corinthians (BRA)
2013
Bayern de Munique (ALE)
Raja Casablanca (MAR)
Atlético Mineiro (BRA)
Ronaldinho Gaúcho (2), Dario Conca (2), Thomas Müller (2)
Atlético Mineiro (BRA), Guangzhou Evergrande (CHN), Bayern de Munique (ALE)
2014
Real Madrid (ESP)
San Lorenzo (ARG)
Auckland City (NZL)
Gareth Bale (2), Sergio Ramos (2), Cristiano Ronaldo (1)
Real Madrid (ESP)
2015
Barcelona (ESP)
River Plate (ARG)
Sanfrecce Hiroshima (JAP)
Luis Suárez (5)
Barcelona (ESP)
2016
Real Madrid (ESP)
Kashima Antlers (JAP)
Atlético Nacional (COL)
Cristiano Ronaldo (4)
Real Madrid (ESP)
2017
Real Madrid (ESP)
Grêmio (BRA)
Pachuca (MEX)
Cristiano Ronaldo (1), Romarinho (1), Jonathan Urretaviscaya (1)
Real Madrid (ESP), Al-Jazira (EAU), Pachuca (MEX)
2018
Real Madrid (ESP)
Al-Ain (EAU)
River Plate (ARG)
Gareth Bale (3)
Real Madrid (ESP)
2019
Liverpool (ING)
Flamengo (BRA)
Monterrey (MEX)
Roberto Firmino (2), Baghdad Bounedjah (3)
Liverpool (ING), Al-Sadd (CAT)
2020
Bayern de Munique (ALE)
Tigres UANL (MEX)
Al-Ahly (EGI)
Robert Lewandowski (2)
Bayern de Munique (ALE)
2021
Chelsea (ING)
Palmeiras (BRA)
Al-Ahly (EGI)
Romelu Lukaku (2)
Chelsea (ING)
2022
Real Madrid (ESP)
Al-Hilal (ARA)
Flamengo (BRA)
Pedro (4)
Flamengo (BRA)
2023
Manchester City (ING)
Fluminense (BRA)
Al-Ahly (EGI)
Julián Álvarez (2), Phil Foden (2), Karim Benzema (4)
Manchester City (ING), Al-Ittihad (ARA)
Os Maiores Vencedores e a Hegemonia Europeia
Ao longo da história do Mundial de Clubes, alguns times se destacaram como os maiores vencedores. O Real Madrid é o clube com o maior número de títulos, demonstrando a força do futebol europeu na competição. No entanto, equipes sul-americanas, especialmente as brasileiras, também têm um papel importante, com clubes como São Paulo, Corinthians e Santos marcando presença no seleto grupo de campeões. A rivalidade entre Europa e América do Sul continua sendo um dos pontos altos do torneio, garantindo jogos emocionantes e de alta qualidade técnica.
O futuro do Mundial de Clubes: Novas edições e expectativas
Com o passar dos anos, o Mundial de Clubes continua evoluindo, buscando se adaptar às demandas do futebol moderno. Novas edições e formatos estão sendo discutidos pela FIFA, visando tornar o torneio ainda mais atrativo para clubes e torcedores. A paixão pelo futebol e o desejo de ver os melhores times do mundo se enfrentando continuam impulsionando a relevância desta competição que, desde a Copa Rio de 1951, escreve capítulos memoráveis na história do esporte. O ESPORTESNET seguirá acompanhando de perto cada lance, cada gol e cada título do torneio que consagra o verdadeiro campeão do mundo.
Uma jornada sobre rodas, desde os primeiros skatistas até os ídolos que conquistaram o Brasil
O skate no Brasil tem uma história rica e vibrante, marcada por paixão, superação e a busca constante por adrenalina. Desde as primeiras manobras nas ruas até os campeonatos nacionais que revelam grandes talentos, o skate conquistou seu espaço no coração dos brasileiros. Neste artigo, vamos explorar a trajetória do skate no Brasil, desde suas raízes até os dias de glória, e relembrar os nomes que se consagraram como campeões brasileiros.
As Origens do Skate no Brasil
A história do skate no Brasil remonta ao final da década de 1960 e início dos anos 70. Inspirados pelo surf, os primeiros skatistas brasileiros improvisavam suas manobras em ruas e calçadas, utilizando pranchas de madeira com rodinhas adaptadas. O esporte cresceu de forma orgânica, com a criação de pistas improvisadas e a realização de pequenos campeonatos entre amigos.
A Evolução e Profissionalização
Com o passar dos anos, o skate foi se profissionalizando e ganhando cada vez mais adeptos. A construção de pistas adequadas, o surgimento de marcas e lojas especializadas e a organização de campeonatos com premiações atraentes impulsionaram o desenvolvimento do esporte no Brasil.
Os Campeonatos Brasileiros: Celeiro de Talentos
Os campeonatos brasileiros de skate desempenham um papel fundamental na revelação de novos talentos e na consagração de ídolos do esporte. As competições atraem skatistas de todo o país, que buscam mostrar suas habilidades e conquistar o título de campeão brasileiro.
O Skate Brasileiro no Cenário Internacional
O skate brasileiro ganhou destaque no cenário internacional, com diversos atletas conquistando títulos e reconhecimento em competições ao redor do mundo. A participação do skate nos Jogos Olímpicos também impulsionou ainda mais a popularidade do esporte no Brasil.
A história do skate no Brasil é uma trajetória de paixão, evolução e conquistas. Das ruas aos campeonatos, o skate se consolidou como um esporte vibrante e relevante no país. Que venham muitos outros capítulos emocionantes dessa história sobre rodas!
Considerado um dos principais nomes do futebol nacional, ex-atleta estava internado em um hospital no Rio de Janeiro; Neoplasia é a mais comum nos homens, ficando atrás apenas dos tumores de pele não melanoma
O lendário ex-goleiro Manga, ídolo do Botafogo e do Internacional, morreu nesta terça-feira (08), aos 87 anos. Haílton Corrêa de Arruda, seu nome de batismo, tratava um câncer de próstata e estava internado em um hospital no Rio de Janeiro.
Dada sua importância no esporte, foi criado o Dia do Goleiro no Brasil, data que é comemorada em 26 de abril em homenagem ao aniversário do ex-jogador, um dos principais nomes da posição na história do futebol nacional.
Trajetória fez de Manga um ídolo imortal
Terceiro goleiro com mais títulos no futebol do país, somando 25 ao longo da carreira em uma época em que calendário de competições era muito mais restrito, Manga também fez história por sua autenticidade. Conhecido por não usar luvas, sofreu várias fraturas nas mãos ao longo da carreira e seus dedos tortos se tornaram uma marca registrada.
O goleiro defendeu as cores do Botafogo entre 1959 e 1968, integrando duas das equipes mais memoráveis na história vitoriosa do clube alvinegro. Ao lado de grandes nomes como Garrincha e Nilton Santos, conquistou o bicampeonato carioca de 1961 e 1962. Posteriormente, entre 1967 e 1968, atuou com outros craques como Gérson, Jairzinho e Paulo César.
Natural de Pernambuco, o goleiro começou sua carreira no Sport e construiu legados importantes em outros clubes, tornando-se ídolo também no Nacional do Uruguai, Coritiba e Internacional.
No Colorado, permaneceu por quatro temporadas, onde conquistou o bicampeonato brasileiro em 1975 e 1976, além do tricampeonato gaúcho em 1974, 1975 e 1976. Manga também foi titular da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1966 e é considerado um dos maiores goleiros da história do futebol mundial.
Clubes
Sport Recife (1955–1959)
Botafogo (1959–1968)
Nacional (Uruguai) (1969–1974)
Internacional (1974–1976)
Operário-MS (1977–1978)
Coritiba (1978)
Grêmio (1979–1980)
Barcelona de Guayaquil (Equador) (1981–1982)
Títulos
Pelo Sport Recife:
Campeonato Pernambucano: 1955, 1956, 1958
Pelo Botafogo:
Campeonato Carioca: 1961, 1962, 1967, 1968
Torneio Rio-São Paulo: 1962, 1964, 1966
Taça Brasil: 1968
Pelo Nacional (Uruguai):
Campeonato Uruguaio: 1969, 1970, 1971, 1972
Copa Libertadores da América: 1971
Copa Intercontinental: 1971
Copa Interamericana: 1971
Pelo Internacional:
Campeonato Gaúcho: 1974, 1975, 1976
Campeonato Brasileiro: 1975, 1976
Pelo Operário-MS:
Campeonato Mato-Grossense: 1977
Pelo Coritiba:
Campeonato Paranaense: 1978
Pelo Grêmio:
Campeonato Gaúcho: 1979
Pelo Barcelona de Guayaquil:
Campeonato Equatoriano: 1981
Entenda sobre o câncer de próstata
Considerado o tipo mais comum de câncer nos homens, ficando atrás apenas dos tumores de pele não melanoma, o câncer de próstata ainda é repleto de dúvidas que merecem atenção. Para cada ano do triênio 2023-2025 são esperados 71.730 diagnósticos da doença, sendo que 75% dos casos ocorrem a partir dos 65 anos, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
De acordo com Denis Jardim, líder nacional da especialidade de tumores urológicos da Oncoclínicas&Co, a próstata é uma glândula do tamanho de uma noz, que tem a função de produzir o chamado líquido seminal, responsável por nutrir e transportar os espermatozóides. Presente apenas em pessoas do gênero masculino, está localizada na frente do reto, abaixo da bexiga, e envolve a parte superior da uretra, canal por onde passa a urina.
O especialista comenta ainda que a maioria dos casos pode ocorrer esporadicamente. “Contudo, existe um número representativo de tumores de próstata que estão associados a fatores genéticos hereditários. A presença de outros casos na família aumenta esse risco, mas a hereditariedade pode ocorrer mesmo na ausência destes casos “, explica.
Além disso, algumas mutações genéticas específicas, como nos genes BRCA1 e BRCA2, comumente associadas a tumores com alta incidência em mulheres, também podem aumentar o risco de câncer de próstata. “A hereditariedade desempenha um papel importante em uma pequena porcentagem dos casos, mas o conhecimento desse fator permite uma vigilância mais ativa e estratégias de rastreamento mais adequadas”, reforça Jardim.
Diagnóstico e tratamento
O câncer de próstata tem uma perspectiva de cura otimista caso seja identificado rapidamente. “De maneira didática, podemos dizer que durante toda a vida, nossas células se multiplicam e as antigas são substituídas pelas novas. Contudo, quando há um crescimento descontrolado, são formados tumores tanto benignos, quanto malignos – como é o caso do câncer de próstata”, diz Jardim.
Por ser um tumor silencioso, a principal ferramenta para diagnóstico em fases iniciais da doença é o exame de PSA. No Brasil, segundo o Inca, a cada dez homens diagnosticados com câncer de próstata, nove têm mais de 55 anos.
No começo, pelo fato dos sintomas serem silenciosos, a doença comumente é detectada a partir da avaliação clínica e/ou exame de PSA. Quando aparentes, os sinais mais comuns são: dificuldade para urinar, presença de sangue na urina, parada de funcionamento dos rins – indicam estágio avançado -, além de problemas decorrentes da disseminação para outros órgãos, tal como dor, nos casos de metástases ósseas.
Por isso, a conscientização sobre a rotina de acompanhamento médico e o rastreamento ativo é sempre a melhor opção. Homens que se encontram no grupo de risco, composto por quem tem mais de 50 anos ou com histórico familiar, devem estar atentos aos exames necessários para rastreamento do câncer de próstata.
“Por apresentar sintomas mais evidentes quando a doença já apresenta evolução, é recomendável que homens a partir de 50 anos façam anualmente o exame clínico (toque retal) e a medição do antígeno prostático específico (PSA) – feita em unidades de nanogramas por mililitro (ng/ml) por meio de um exame simples de sangue – para rastrear possíveis alterações que indiquem aparecimento da doença. Quando há suspeita da neoplasia, é indicada uma biópsia através de ultrassonografia transretal para a confirmação do diagnóstico, precedida muitas vezes de uma ressonância”, destaca.
Para a definição do tratamento, é necessário analisar o estágio e agressividade do tumor e, com isso, o oncologista irá projetar individualmente alternativas terapêuticas. Já nos casos da doença localizada, a cirurgia, radioterapia associadas ou não ao bloqueio hormonal e a braquiterapia podem ser uma opção. “Em estágio inicial e de baixa agressividade, devemos manter um acompanhamento contínuo de consultas e exames, além do tratamento. Quanto aos pacientes que apresentam metástases, temos uma série de abordagens que podem ser realizadas, como quimioterapia, bloqueio hormonal, medicamentos para controle da ação da testosterona e ainda os chamados radioisótopos, que são uma nova classe de medicamentos com partículas que se ligam ao osso e passam a emitir doses de radioterapia local”, orienta Denis Jardim.
Elena Mukhina foi uma ginasta que fez história durante os anos de intensa rivalidade da Guerra Fria, onde as pressões para desempenho eram esmagadoras. Treinando até 16 horas por dia, sem descanso nos finais de semana, ela enfrentou o desafio de se destacar em um sistema que exigia o impossível.
Em 1978, no mundial de Estrasburgo, Elena brilhou, conquistando cinco medalhas, incluindo três de ouro, e introduzindo quatro novos movimentos na ginástica.
As Pressões do Sistema Soviético
Com o sucesso dos campeonatos, as expectativas em torno de Mukhina aumentaram exponencialmente. Para se preparar para os Jogos Olímpicos de 1980, a pressão se tornou insuportável.
A ginasta foi instrumentalizada como símbolo do regime soviético, enfrentando um treino sem fim e pressão constante por rendimento excepcional, o que culminou em um esgotamento físico e emocional devastador.
Uma Trágica Queda
O colapso de sua saúde chegou em um momento crítico. Durante um treino, uma manobra arriscada resultou em um acidente horrível, deixando Elena tetraplégica e mudando sua vida para sempre. O trágico evento, que ocorreu semanas antes das Olimpíadas de Moscou, chocou o mundo e revelou a face obscura das exigências sobre os atletas.
Após a queda da União Soviética, sua história foi redescoberta, evidenciando o sofrimento de uma atleta cujas realizações foram ofuscadas pela pressão e desamparo. Elena Mukhina partiu aos 45 anos, marcada por uma dor que muitos entenderam apenas tardiamente.
McLaren buscava um novo parceiro para substituir Honda e Lamborghini foi uma das tentativas
A Fórmula 1, como quase todos os esportes—motorizados ou não—está cheia de suposições, histórias e promessas. Pilotos que eram candidatos ao título e carros feitos para dominar as pistas, mas que nunca conseguiram. Também há parcerias que quase foram fechadas, mas que acabaram antes de começar. A McLaren Lamborghini é um excelente exemplo disso.
Este carro, um dos mais fascinantes casos de “e se…” na história da Fórmula 1, combinava um excelente chassi da McLaren com um potente motor V12 da Lamborghini. Esta McLaren não ficou só no papel. Ela se materializou, mostrou-se extremamente rápida e até recebeu a aprovação de Ayrton Senna, que a testou no Circuito do Estoril, Portugal, em 1993. Mas Ron Dennis, o chefe da McLaren na época, tinha outros planos e não deixou que ela chegasse às pistas. Mas, por quê?
Primeiro, é preciso lembrar que a temporada de 1993 não foi fácil para a equipe britânica. A Honda, que fornecia os motores, anunciou repentinamente que iria deixar a Fórmula 1. Isso deixou a McLaren em uma situação complicada, forçada a encontrar um novo fornecedor de motores em poucos dias.
Para complicar ainda mais, a McLaren enfrentava uma equipe Williams fortíssima, impulsionada pelo motor V10 da Renault, em uma relação de exclusividade que inviabilizava qualquer acordo entre a Renault e a McLaren. Ciente de tudo isso, Ron Dennis firmou uma parceria com a Ford-Cosworth para o fornecimento do motor V8. Mas dizem que esses motores eram menos potentes do que os que a Ford fornecia à Benetton, sua principal equipe.
Além disso, o ambiente dentro da equipe começou a deteriorar. Ayrton Senna, esperto, já previa os tempos difíceis que viriam e mostrou vontade de sair. Dizem que o piloto brasileiro chegou a renovar contrato corrida a corrida, deixando sempre aberta a possibilidade de mudança.
Senna percebeu rapidamente que continuar com os motores V8 da Ford-Cosworth não era uma opção viável para a temporada de 1994, e Ron Dennis começou a procurar alternativas. É aqui que entra a Lamborghini, presente na Fórmula 1 desde 1989 como fornecedora de motores V12 para várias equipes menores, como a Larrousse, vista como uma espécie de equipe de fábrica da marca italiana. Em qualquer equipe em que o V12 da Lamborghini foi utilizado, o resultado foi além de muitas dores de cabeça, mostrando-se sempre pouco confiável. Mas todos admitiam que aquele motor tinha potencial para oferecer muito mais.
Lamborghini na F1
A norte-americana Chrysler comprou a Lamborghini em 1987 e um dos focos era justamente competir na F1. Em 1989, o fornecimento de motores começou para a Lola, uma das pequenas do grid. Em 1990, a marca expandiu e também começou a equipar os carros da Lotus.
Em 1991, a Lamborghini esteve com os carros da Modena e da Ligier. O resultado foi um fracasso, sem marcar pontos com as duas equipes. Em 1992, as equipes foram Minardi, do brasileiro Christian Fittipaldi, e Larrousse. Em 1993, somente a Larrousse permaneceu com os motores Lambo. No total foram 80 Grandes Prêmios.
Os testes do “McLambo”
O primeiro teste de Senna com o motor da Lamborghini foi no dia 23 de setembro de 1993, com um carro era completamente branco, sem patrocínios. O brasileiro mostrou empolgação com a nova máquina, mas a McLaren fechou surpreendentemente com a Peugeot, que forneceu unidades de dez cilindros no ano seguinte para o time britânico.
Piloto de testes da McLaren até a 13ª corrida da temporada, Mika Hakkinen assumiu o posto de segundo piloto da equipe justamente no GP de Portugal, após um desempenho decepcionante do norte-americano Michael Andretti na categoria. No entanto, o finlandês também testaria o motor Lamborghini em Silverstone depois e cravaria um tempo 1s2 melhor do que aquele estabelecido com os motores Ford em 1993 no final de semana do GP da Inglaterra.
Senna, inclusive, já queria utilizar o novo motor nos últimos três GPs da temporada (Portugal, Japão e Austrália). No entanto, o tricampeão admitia que mais potência e sofisticação eram necessárias para adquirir mais competitividade. “Estou certo que será um ótimo motor para a próxima temporada”, disse Ayrton na época, que vivia também a indefinição de onde correria em 1994.
Os motores Peugeot escolhidos para 1994 não duraram mais de uma temporada na equipe. Após a saída de Ayrton para a Williams, a McLaren não venceu corridas em 1994 e trocou o fornecedor no ano seguinte, firmando uma parceria longa e duradoura com a Mercedes (1995-2014), que culminou com conquistas do Mundial com Hakkinen (1998-1999) e o primeiro título de Lewis Hamilton na F1 (2008).
Bastidores polêmicos
O que poucas pessoas souberam na época é que a McLaren já havia feito um acerto financeiro com a Peugeot antes dos testes com o motor Lamborghini e por isso o acordo com a Lambo não foi para a frente. Quem confirmou isso foi Martin Whitmarsh em depoimento ao britânico Tony Dodgins, autor do livro Ayrton Senna: All his Races.
Whitmarsh era um dos chefões da McLaren junto com Ron Dennis e lembrou do dia em que ambos foram na sede da Lambo.
McLaren Peugeot em 1994
“A Lamborghini chegou e nos mostrou os dados de telemetria e o motor era fantástico, com 50 ou 60 cavalos a mais do que o que nós tínhamos (Ford), e com 30 kg mais leve. Mas eu não acreditei naqueles dados porque eu via o quanto aqueles carros (da Larrousse) eram lentos. Eu lembro que fui na Lamborghini e colocamos o motor no dinamômetro e realmente vimos a agulha girar e alcançar os números de potência que eles realmente afirmavam”, disse Whitmarsh.
A decepção de Senna
“No final, não achamos que a Chrysler honraria o compromisso (de desenvolver o motor) e fizemos um acordo com a Peugeot em 1994. Contratualmente, apesar de termos testado esse motor da Lamborghini e até antes de executá-lo, eu disse ao gerente da equipe, Dave Ryan, o que deveria acontecer com o carro (no teste). Não deveria ir mais rápido que X. Se isso acontecesse, nos iria causar alguns grandes problemas contratuais. E acrescentei: ‘Mas não se preocupe, não vai (acontecer)’.
“Dave me ligou da pista e disse ‘Olha, eu não consigo parar o crescimento desse carro, ele está indo muito rápido. Parece ótimo e tem o Ayrton dentro’. Então eu disse a ele para colocar 100 kg de combustível e não dizer nada a ninguém.
“Aquilo era uma verdadeira bagunça e eu estava tendo que administrar isso. Mas o Ayrton, obviamente, percebeu que era mais rápido que o carro de motor Cosworth e queria competir com o Lamborghini nas últimas três corridas de 1993. Ele estava muito chateado que nós não faríamos isso”.
Mesmo sem os Lambo, a McLaren mostrou um desempenho melhor no final daquela temporada e venceu as últimas duas corridas com Senna no Japão e na Austrália, justamente as duas últimas vitórias do piloto brasileiro na F1. Após a decepção com a McLaren, a Lamborghini nunca mais voltou a correr na categoria.
Abaixo, alguns trechos de entrevista histórica de Ayrton Senna à jornalista Mônica Bérgamo para a revista Playboy em agosto de 1990
PLAYBOY: O Nelson Piquet alimentou a discussão ao declarar que você não gosta de mulher. Como isso o afetou?
SENNA: Fiquei… muito triste. Foi uma campanha altamente destrutiva. Não me anularam na pista, quiseram me derrotar pelo lado pessoal. Falharam mais uma vez.
PLAYBOY: Essas insinuações acabaram envolvendo Américo Jacoto Júnior, assessor que o acompanhava em quase todas as corridas. E você o demitiu, não foi?
SENNA: O Júnior… ele era um amigo de infância, era como um irmão para mim. Foi muito triste usarem um argumento tão absurdo, tão mentiroso, para me destruir e atingir alguém de quem eu gosto. Mas não foi uma demissão. Na verdade, o Júnior era mais um amigo do que um assessor. Tinha acabado a faculdade, estava à toa, e eu o convidei para viajar. Foi ótimo, porque ele conheceu o exterior, aprendeu idiomas, e era uma companhia excepcional…
PLAYBOY: Vocês não se afastaram por causa da polêmica criada pelo Piquet?
SENNA: É, existiu um afastamento, a amizade nunca mais voltou a ser a mesma. Foi uma destruição muito grande… [Senna fica tenso e faz um longo silêncio.] É melhor ficar quieto. Eu ia falar uma coisa aqui… não quero falar.
PLAYBOY: O quê?
SENNA: Não, não… nada.
PLAYBOY: Alguma coisa sobre esse assunto?
[Senna desliga o gravador e faz um desabafo emocionado sobre Piquet. Pede para que se mude de assunto.]
PLAYBOY: Por que você não aproveita e esclarece o episódio de uma vez?
SENNA: [Silêncio.]
PLAYBOY: Você o processou por isso. A retratação dele na Justiça foi suficiente?
SENNA: Irrelevante. Ele negou que tinha dito. Foi tudo um jogo baixo, sujo.
PLAYBOY: Você namorou a Katherine, atual mulher dele, antes de os dois casarem, não é?
SENNA: Não namorei. Mas… eu a conheci.
PLAYBOY: Conheceu como?
SENNA: [Emocionado.] Eu a conheci como mulher. É curto e grosso. Eu a conheci como mulher.
PLAYBOY: Você nunca havia dito isso. Não seria um motivo suficiente para que Piquet não lançasse dúvidas a seu respeito?
SENNA: Não há nada que sustente o argumento de que eu não gosto de mulher.
PLAYBOY: Você acha que…
[Senna desliga o gravador, negando-se a responder qualquer outra pergunta sobre o assunto.]
PLAYBOY: Sua paixão pelas corridas dá a impressão, às vezes, de que você não pensa em nenhuma outra coisa. Só em carros.
SENNA: Quando estou trabalhando, meu compromisso com a vitória é total. Não tenho tempo de falar com a imprensa sobre o que eu acho ou deixo de achar. Isso só acontece em momentos especiais. Como nesta entrevista. São oportunidades raras, mas tão ricas em qualidade que mesmo quem me acha frio, sem perceber, acaba gostando de mim.
PLAYBOY: Você é uma pessoa solitária?
SENNA: A solidão me toca em muitos momentos. Mas tenho fé de que vou encontrar a pessoa ideal para dividir minha vida. Sou inquieto, faço com que as coisas aconteçam. No campo emocional, porém, assumi uma paz interior, reforçada pela ideia de que na hora certa essa pessoa vai chegar. Cabe a mim ter paciência. Por outro lado, não vivo sozinho. Estou em contato diário com aqueles que amo no Brasil. Telefono para meus pais, para meus irmãos, Viviane e Leonardo, mais de uma vez por dia. Nunca estou só. Nunca estive só.
PLAYBOY: O segundo casamento está em seus planos?
SENNA: Por que não? Só que pretendo acertar em cheio desta vez. Quero ter filhos — um casal seria muito bom. Mas não podemos escolher, não é? Depende da vontade de Deus.
PLAYBOY: Quando seu filho fizer 4 anos, você vai dar a ele um carrinho de kart, como seu pai fez com você?
SENNA: Se ele demonstrar aptidão guiando carros no colo do pai, como aconteceu comigo, tudo bem. Mas não incentivaria. Mostraria outros caminhos e o apoiaria naquilo que ele sentisse amor. A identificação com carros, com corridas, teria que nascer nele. Eu não despertaria.
PLAYBOY: Onde está aquele carrinho?
SENNA: Virou sucata em algum ferro velho. Brinquei com ele alguns anos, até meu pai me comprar um kart verdadeiro. O antigo ficou para meu irmão mais novo, o Leo. Um dia, ele estava brincando na metalúrgica do meu pai. Dirigia rápido, mas era distraído. Começamos a chamar, o Leo olhou para trás e continuou acelerando. Escorregou na pista, bateu num muro e por pouco não parou embaixo de um caminhão. Meu pai ficou tão desgostoso que jogou o brinquedo fora.
PLAYBOY: Você lembra de sua primeira corrida?
SENNA: Da primeira, da segunda, da primeira vitória… Lembro de tudo. Competi pela primeira vez aos 8 anos, num balneário em São Paulo. Meu pai não queria, porque só tinha marmanjo de 18 anos. Mas entrei e curti adoidado. Me deram uma colher de chá, e fui o primeiro a sortear posição, num capacete cheio de papeizinhos. Peguei o número 1 — minha primeira pole! Eu era tão pequeno, tão leve, que meu carro andava mais que todos, e fiquei na ponta um montão de voltas. Os grandes se pegavam nas curvas, mas nas retas eu mandava ver, sumia. Faltavam três voltas quando um deles deu uma pancada atrás do kart. Capotei e fiquei fora. Mas quase venci.
PLAYBOY: Quem eram seus ídolos naquela epóca?
SENNA: O fackie Stewart, o Gilles Villeneuve, o Niki Lauda e, sem dúvida, o Émerson Fittipaldi. Ele era o maior.
PLAYBOY: Parece que você não acelerava muito na escola, não é? Ficava em recuperação, passava por conselho de classe…
SENNA: No ginásio até que ia bem, sentava nas primeiras carteiras da classe. Perdi o pique no colegial. Já construía meus castelinhos, sonhava em me dedicar de corpo e alma ao automobilismo. Comecei a sentar no meio, no fundão, a colar nas provas. Certa vez, um amigo chegou a fazer exame por mim. Valeu pelo menos, passei de ano! Mas foi o cúmulo. Depois, por inércia, entrei na faculdade de Administração de Empresas da FAAP, em São Paulo. Minha cabeça, porém, estava em outra: cursei um mês, tranquei matrícula e pouco depois fui para a Europa. Aí começou tudo.
PLAYBOY: E como foi sentar em um carro de F-1 pela primeira vez?
SENNA: Uma experiência incrível. Foi em julho de 1983, em Donnington Park, um dia depois do GP da Inglaterra [Senna, que corria na Europa desde 1981, em categorias inferiores, estreou profissionalmente na Fórmula 1 em 1984, quando assinou contraio com a Toleman]. O Frank Williams, dono da Williams, me convidou para andar no carro. Parecia um sonho ver de perto aquela tremenda máquina, altamente sofisticada, campeã do mundo, um privilégio permitido a apenas dois pilotos. Era gostoso saber que eu ia fazer o motor funcionar, colocar a marcha e sair pelo boxe. Aquele dia não era da Williams, não era de ninguém. Era só meu. Liguei o carro, e bati o recorde da pista. É uma grande recordação. Lembro que cheguei perto da máquina, fiquei olhando, fiz carinho, dei uns tapinhas e falei para ela: “É hoje! É hoje!”
PLAYBOY: Você conversou com o carro?
SENNA: É… pode crer!
PLAYBOY: Esse diálogo é constante?
SENNA: Não, só aconteceu naquele dia. Meu papo é com outra pessoa — é com Ele, lá em cima. E isto vem se acentuando nos últimos dois anos. Tenho tido experiências fantásticas. Uma nova vida se abriu diante de mim.
PLAYBOY: Esse seu, digamos, diálogo com Deus começou em 1988, em Mônaco, quando você liderava a prova com quase 1 minuto de vantagem sobre o Alain Prost e bateu o carro sozinho no guard-rail?
SENNA: Exatamente. Aquilo não era apenas um erro de pilotagem. Era a consequência de uma luta interna que me paralisava e tornava vulnerável. Eu tinha uma abertura para Deus e outra para o diabo. O acidente foi um sinal de que Deus estava ali me esperando, para me dar a mão. Bastava eu dizer que queria. Foi uma experiência incrível. Ouvir falar de Deus é uma coisa. Mas eu experimentei, diante dos meus olhos, dos meus sentidos — o que é bem diferente. Não existe equívoco, não existe dúvida, não existe mal entendido. É uma verdade.
PLAYBOY: Que outras experiências você teve?
SENNA: Se conversar sobre minha vida amorosa é algo extraordinário, falar sobre Deus é ainda mais fora do comum. É muito, muito especial. É meu mundo. Aos olhos das pessoas comuns, que não têm fé, tudo é loucura, bobagem. Por isso, fica uma situação incômoda para mim. Ao mesmo tempo, por que não dividir experiências com as pessoas que, como aconteceu comigo, procuram a vida nova?
PLAYBOY: E como são os sinais que você recebe?
SENNA: Depois do acidente de 1988, Ele começou a falar comigo através da Bíblia. Eu pegava o livro orando, expondo meus sentimentos, pedindo luz. E abria exatamente onde estavam as respostas de coragem, determinação e força.
PLAYBOY: Já lhe aconteceu algo mais concreto?
SENNA: Vou contar uma experiência recente. No Grande Prêmio de Mônaco deste ano, em maio, percebi nos treinos de sábado que meu carro estava desequilibrado, sem possibilidade real de vitórias na corrida de domingo. A McLaren do Gerhard Berger, meu companheiro de equipe, apresentava os mesmos problemas. Bem, vencer em Montecarlo era muito importante, e expliquei isso a Deus. Ele sabe de tudo o que se passa em nosso coração. Mas é necessário se entregar através da oração. Foi o que eu fiz. Quando chegou o domingo, ainda no warm-up [o aquecimento que os pilotos fazem nos carros pela manhã], tive uma sensação e uma visão. Consegui me enxergar de fora do carro. Em volta da máquina e do meu corpo, existia uma linha branca, uma espécie de onda, que se traduziu para mim como força e proteção.
PLAYBOY: Você conseguiu se ver?
SENNA: Hã-hã.
PLAYBOY: Saiu do seu corpo?
SENNA: Hã-hã. Entrei em outra dimensão. Tive uma paz incrível, e a certeza de que estava equilibrado, de corpo e alma, inteiro. Não tinha canto sobrando, estava tudo redondo, em harmonia. Geralmente, antes de largar, fico na minha, quietão. Dessa vez, até sorri. Saí do boxe, com aquele mesmo carro que um dia antes apresentou problemas, e os defeitos… pã! Desapareceram! Estavam lá, mas não me incomodavam. Depois da corrida, o Berger veio conversar comigo, e disse que o carro dele continuou trepidando. Eu apenas sorri, não entrei em detalhe. Só que, comigo, não aconteceu nada.
PLAYBOY: Você lê a Bíblia diariamente?
SENNA: Não. Mas, às vezes, mais do que uma vez por dia. É nela que aprendo pouco a pouco sobre o Deus poderoso, que criou o céu, a Terra, o universo.
PLAYBOY: E à igreja, você vai?
SENNA: Gosto quando ela está vazia, tranquila, em paz. Sou católico, mas não curto missa. Não tem nada de especial nem de gostoso nesse culto.
PLAYBOY: Principalmente se alguém o reconhece e vem rogar um autógrafo, não é?
SENNA: Não é isso. Acontece que o ritual não tem nada a ver, é muito superficial. Não é o meu culto, com certeza.
PLAYBOY: Quando venceu o GP do Japão. em 1988 e conquistou o primeiro título mundial, você declarou que chegou a ver Deus nas duas últimas curvas da prova. Como foi isso?
SENNA: Eu estava agradecendo a Ele pela vitória. Deus me deu um campeonato de luta, conquistado na penúltima prova do ano, como todo piloto sonha. Era um presente enorme. Mesmo orando, eu estava superconcentrado, me preparando para uma curva longa, de 180 graus, quando vi a imagem de Jesus. Ele era tão grande, tão grande… Não estava no chão. Estava suspenso, com a roupa de sempre, a cor de sempre, e uma luz em volta. Seu corpo inteirinho subia para o céu, alto, alto, alto, ocupando todo o espaço. Ao mesmo tempo em que tinha essa imagem incrível, eu guiava um carro de corrida. Guiava com precisão, com força, com… [comovido] com tudo… É de enlouquecer, não é? É de enlouquecer!
PLAYBOY: Você não enxergava mais nada?
SENNA: Exato. Não dá para descrever. Eu falava com Deus, e Ele pintou. Simplesmente se mostrou diante de mim.
PLAYBOY: Em que mais você pensava nesta hora?
SENNA: Cruzei a linha de chegada urrando dentro do capacete. Batia na cabeça, não acreditava, comecei a chorar. Dezenas de pessoas da equipe falavam comigo pelo rádio, e eu agradeci especialmente ao Steve Nichols, meu engenheiro. Gritei muita coisa que não posso revelar.
PLAYBOY: Palavrões?
SENNA: [Rindo.] É. Entre outras coisas. Foi uma explosão de sentimentos. Aqueles segundos consagravam uma vida inteira de trabalho, desejo, sonho e vitória. Foi uma conquista real, um campeonato indiscutível, de vitórias tremendas, e não um campeonato ganho por pontinhos.
PLAYBOY: Por vitórias ou por pontinhos, não dá na mesma?
SENNA: Todos os anos tem um campeão, em todos os esportes. Mas nem sempre é o campeão de verdade, respeitado. admirado, indiscutível. Pelo contrário. muitas vezes é um vencedor sem vitória. sem mérito, sem conquista. Veja: num ano em que uma equipe como a McLaren domina totalmente o campeonato, existem dois pilotos com possibilidades de vencer. Entre aquele que tem vitórias e é o melhor, e o que vence pela desgraça dos outros, porque os adversários quebram o carro, coisas assim, o primeiro tem muito mais valor. E eu conquistei o título assim. Da maneira que julgo verdadeira.
PLAYBOY: Você está querendo dizer que o Alain Prost, que venceu o campeonato no ano seguinte, por pontos, foi um campeão…
SENNA: [Interrompendo.] … Sem valor, sem crédito. Tudo foi tão desacreditado por ele — a qualidade de nossos carros, o fornecimento do motor — que ele nem comemorou o título. Eu saí do Japão em 1988 como vencedor. Como campeão de fato. O Prost saiu do Japão um ano depois como perdedor. Não ganhou na pista, não conquistou o título através de uma vitória. Na última corrida do ano, na Austrália, que definiu o campeonato, ele estava fora do carro, no boxe, parado, se recusando a correr por causa da chuva. Levou o título por uma questão matemática. Se eu vencesse nessa última prova, será que ele se consideraria, no íntimo, um campeão? O Prost sabia que eu tinha conquistado nove pontos no Japão, uma prova antes, mas que me desclassificaram, me tiraram esses pontos. Com eles, eu seria o campeão. Qual é, então, o valor do título dele?
PLAYBOY: Nesta prova do Japão, você foi desclassificado por causa de uma manobra irregular para voltar às pistas, depois que seu carro se chocou com o de Prost. Ron Dennis, o dono da McLaren, defendeu você. Ele disse que Prost jogou o carro sobre o seu. Foi isso mesmo?
SENNA: O Prost virou o carro antes de entrar na curva, isso a gente vê pelos vídeos de televisão. Ele percebeu que eu estava ali e fez de propósito.
PLAYBOY: É verdade que depois da prova Prost foi procurá-lo e você quase bateu nele?
SENNA: Cheguei perto. Depois do que ele fez, vem se dizer triste pelo episódio? É algo fora da realidade. Eu disse para ele se afastar e cuidar da própria vida. Era o mínimo que eu poderia fazer.
PLAYBOY: Depois de desclassificado da prova, você acusou os cartolas de manipularem o campeonato em favor de Prost e acabou ameaçado pelo presidente da Fisa [Federação Internacional de Esportes Automobilísticos], Jean-Marie Balestre, de ser excluído das provas deste ano. A briga se arrastou por três meses. Em todo este tempo, você sempre achou que estava certo?
SENNA: Cem por cento.
PLAYBOY: E por que se retratou, como Balestre exigia?
SENNA: Mais uma vez, foram circunstâncias de uma situação em que a verdade foi colocada de uma maneira… [longo silêncio] que ainda hoje eu não posso responder.
PLAYBOY: Quando disse que o campeonato foi manipulado, você expressou uma certeza que pelo menos os seus torcedores também tinham?
SENNA: Hã-hã.
PLAYBOY: E, na última hora, mudou de opinião?
SENNA: Não, eu não mudei. Essa é que é a verdade. Eu não mudei. [Emocionado.] Mas, realmente, não posso falar sobre isso hoje. Teria sérias implicações.
PLAYBOY: Sua vontade de continuar nas pistas está acima de tudo?
SENNA: Em certos momentos, sim. Neste episódio, não. Quis deixar as corridas, cheguei a tomar esta atitude. Abri mão da minha profissão, totalmente. Mas as coisas se modificaram rapidamente e tomaram outro rumo.
PLAYBOY: O que aconteceu?
SENNA: Não entrarei em detalhes.
PLAYBOY: Mas como você se sentiu tendo que se retratar?
SENNA: Isso que você está dizendo não faz parte da realidade. E, no entanto, eu não posso falar hoje.
PLAYBOY: Você teve o apoio de algum no piloto?
SENNA: Não o suficiente para que colocássemos algo em prática com grande efeito. Existiram contatos e declarações do Maurício Gugelmin, do Michele Alboreto, do Thierry Boutsen.
PLAYBOY: Qual desses apoios …
SENNA: [Taxativo.] Este é um assunto sobre o qual não posso falar mais. Infelizmente.
PLAYBOY: OK. Podemos esclarecer então como as coisas entre você e o Prost chegaram aonde chegaram?
SENNA: Os problemas surgiram em meados de 1988, quando comecei a alcançá-lo no campeonato, ameaçando sua posição dentro da equipe. A pressão aumentou e ele começou a espernear. Tentou desestabilizar o bom ambiente de trabalho, pois só assim poderia eventualmente me vencer. Em condições de igualdade, não tinha mesmo como.
PLAYBOY: Seus adversários diziam que ele acertava o carro, e que você vinha na cola, aprendendo. Era assim?
SENNA: Eu tinha que aprender com ele, que é experiente e conhecia a McLaren há muitos anos. Só junto dos que sabem posso evoluir e superá-los. Foi minha estratégia. Deu certo.
PLAYBOY: Vocês passaram a temporada de 1988 tentando manter as aparências. Em abril de 1989, em Ímola, a bomba explodiu. Ele o acusou de ser traidor e não cumprir acordos de cavalheiros dentro das pistas. O que houve de verdade?
SENNA: Como nossos carros eram superiores aos outros, combinamos de poupar a máquina na largada, não ultrapassando na primeira freada da primeira curva. Veio a largada, ele ficou em primeiro. Só que peguei seu vácuo, ganhei velocidade e consegui ultrapassá-lo antes da curva. E fui embora. Ele começou a apertar de tal forma o ritmo que rodou, foi para o outro lado da pista, fez o diabo. Depois da corrida, estava muito ‘pê da vida’. Jogou a culpa da derrota em mim, dizendo que traí o acordo. E começou a maior encrenca.
PLAYBOY: Como foi isso?
SENNA: Ímola foi a gota d’água de uma situação que vinha desde 1988, quando ele perdeu o campeonato para mim. Prost ficou numa pior. Tanto é que tínhamos um treino na Inglaterra e ele ficou na França, ameaçando parar de correr. Isso seria terrível para a McLaren, que não teria como substituí-lo naquele momento. O Ron Dennis, desesperado, me pressionou para uma solução. Nós dois combinamos que eu daria ao Prost uma válvula de escape, para ele se recuperar. Sentamos depois os três e eu assumi a culpa. Abri uma via de fuga para ele emergir um pouco.
PLAYBOY: A versão do Prost é diferente. Ele diz que você traiu o acordo e, pressionado pelo Ron Dennis, confessou e até chorou.
SENNA: É verdade. Chorei. O estado dele me impressionou. O Prost estava desestruturado, não tinha condições de continuar correndo. Simplesmente não existia mais.
PLAYBOY: Você quer dizer que chorou de pena?
SENNA: Exatamente. Mas ele nunca foi capaz de entender. Na semana seguinte, em Mônaco, soltou outra versão para a imprensa francesa. Não respondi. Segurei firmão e aguentei mais uma vez. Quis provar na pista que era maior do que ele. Por coincidência, tive uma sorte incrível: geralmente estou sozinho, mas naquela corrida a Xuxa estava no meu apartamento, em Montecarlo. Eu fazia o trabalho na pista e voltava correndo para junto dela. Não dava espaço para comentário sobre a briga. Mas, para mim, ele já não existia.
PLAYBOY: E o Ron Dennis, nessa história toda?
SENNA: Na prova seguinte, no México, o Prost foi reclamar com o Ron que eu não falava mais com ele. “Depois do que você fez, quer que o Ayrton continue seu amigo?” Foi a resposta que ouviu. A carreira dele estava encerrada na McLaren. O Ron não queria mais o Prost na equipe. Não tinha como falar, mas o francês percebeu e foi para a Ferrari.
PLAYBOY: Antes de ser campeão, você não dizia que ele era o melhor piloto do mundo?
SENNA: Sem dúvida. De todos os corredores que estão na F-1, Prost é um dos mais completos.
PLAYBOY: E o professor, como os franceses o chamam?
SENNA: Não. É um grande piloto.
PLAYBOY: Depois de vencê-lo, você não se considera melhor do que ele?
SENNA: Palavras não se aplicam. Das cinco primeiras corridas deste ano, liderei todas, venci três e consegui quatro pole positions. Os resultados falam. É lógico que tenho minha opinião, e ela é clara. Mas não devo revelar.
PLAYBOY: Ron Dennis garante que você é o melhor.
SENNA: Ele já trabalhou com muitos campeões, e tem a visão não só do resultado final mas de como se chegou àquele resultado. Vindo do Ron, é um complemento realmente muito especial.
PLAYBOY: Você então é “obrigado” a concordar quando ele diz: Senna é o melhor?
SENNA: [Sorrindo.] Não posso discordar.
PLAYBOY: Antes da briga, o Prost disse que, se fosse dono de uma escuderia, iria contratá-lo como piloto. Piquet já fez declaração idêntica. E você, quem colocaria em sua equipe?
SENNA: Esta hipótese não existe.
PLAYBOY: E só uma maneira de falar quem são, na sua opinião, os melhores pilotos.
SENNA: Não vão ter isso de mim. Se o Mansell é o melhor, ou o Berger, ou o Piquet, ou o Prost… São todos grandes pilotos.
PLAYBOY: Você não dá o braço a torcer, hein? Ayrton Senna é mesmo a pessoa difícil que parece?
SENNA: Tenho personalidade forte e ideias muito claras. Talvez por isso encontre tantas dificuldades e faça alguns inimigos na F-1. Além disso, incomodo muita gente.
PLAYBOY: As pessoas sentem inveja?
SENNA: Este sentimento faz parte.
PLAYBOY: Piquet também pensa assim. Ele declarou a PLAYBOY que você o invejava.
SENNA: É a opinião dele.
PLAYBOY: Na ocasião, fez também uma acusação: lendo seu contrato na Lotus, ele descobriu que você recebia metade do valor que declarava à imprensa.
SENNA: [Irônico.] Talvez seja uma declaração infeliz, um engano. Ele aceitou o contrato que deixei. Aliás, entrou ganhando menos do que eu ganharia se continuasse na equipe.
PLAYBOY: Quando a Lotus anunciou a contratação de Piquet no final de 1987, você ainda não acertara com a McLaren. Para todos os efeitos, não teria sido uma demissão? Como você se sentiu integrando o time dos “descamisados”?
SENNA: Eu decidi sair, essa é a verdade. Tinha propostas da Ferrari e da McLaren, e falei para o Peter Warr, chefe da Lotus, que não continuaria na equipe. Ele tentou me segurar de todas as maneiras possíveis, inclusive financeiras. Até o dia em que deixei claro que a decisão não tinha volta. Saíram então desesperados atrás de outro piloto. No sufoco, arrumaram o Piquet, e tentaram passar ao mundo que tinham me tirado. Quem não sabe, pensa que saí correndo atrás da McLaren, mas na verdade minhas conversas com os ingleses já estavam bem adiantadas. Só não assinamos o contrato antes porque a negociação era complexa.
PLAYBOY: De qualquer forma, a Lotus não pegou você de surpresa ao contratar Piquet?
SENNA: O que me pegou de surpre-sa foi apenas eles tornarem o fato público sem me comunicarem oficialmente antes.
PLAYBOY: Mas você nem sequer sabia que negociavam com outro piloto…
SENNA: Eu sabia! Tinha contatos na Reynolds, patrocinadora da Lotus, e na Honda, que fornecia o motor. Me chegavam informações de todos os lados, confidenciais, importantíssimas, a respeito de tudo. Eles estavam em uma sala de Londres, no escritório da Reynolds, negociando “secretamente” com o Piquet — e eu sabia de tudo. Soube cada passo do acordo e até o minuto exato em que assinaram o contrato.
PLAYBOY: Como?
SENNA: Estava dentro do meu carro de passeio, uma Mercedes com telefone, e recebia vários chamados da Reynolds. Eles estavam reunidos com Piquet e com a Lotus, mas ainda indecisos de fechar negócio. Dependiam da minha posição. Na última hora, um executivo saiu da sala, me telefonou, e eu confirmei que estava mesmo fora da equipe. Só depois disso, finalmente assinaram o contrato com ele. Piquet deu risada, mas eu já estava me divertindo bem antes. Quem gosta de mim ficou ‘pê da vida’, achando que me passaram a perna. Mas a verdade sempre vem à tona — como veio agora.
PLAYBOY: Por essas e outras, você vive repetindo que “o circo da F-1 é nojento”. Você se refere à briga entre os pilotos, aos cartolas, ou aos interesses econômicos das escuderias e dos patrocinadores?
SENNA: Talvez tenha sido um pouco agressivo e me expressado mal. A F-1 é um grande espetáculo. Mas, como toda atividade de grande penetração, tem problemas que tiram muito do sabor do esporte.
PLAYBOY: Você estaria falando da Marlene Mattos, empresária da Xuxa?
SENNA: Não vou citar nomes. Mas, quando a coisa começou a escapar para a imprensa, me incomodou. Eu sabia que aquilo só daria mais lenha para quem dizia que tudo era promoção. Não era, eu garanto. Foi uma fase muito especial da minha vida.
PLAYBOY: Você se dava bem com a Marlene?
SENNA: É uma personalidade… complicada.
PLAYBOY: É verdade que você pediu a Xuxa em namoro para ela?
SENNA: [Rindo.] Entrei em contato com a Xuxa através da Marlene, a quem pedi o telefone dela. Mas nunca a pedi em namoro para ninguém.
PLAYBOY: Quando vocês desmancharam?
SENNA: Em março. Por coincidência, assisti outro dia a uma entrevista dela no Fantástico, falando da vida íntima, falando de mim.
PLAYBOY: Naquela ocasião, Xuxa disse que não tinha muito tempo para o namoro, e que você não entendia, pegava no pé…
SENNA: Sem dúvida, eu tinha mais tempo. Mesmo assim, ficávamos juntos duas semanas, e separados quatro. O grande problema é que a Xuxa delira pela profissão, e simplesmente se fecha no seu mundo. Acho que fui um dos únicos que conseguiram entrar nele. Conheci coisas muito, muito particulares cio interior da Xuxa. Como ela, eu também sou especial. Apesar disso, era difícil. A Xuxa não dá condições para o relacionamento. Não tem tempo de pensar para valer em uma família, em ter seu baixinho, sua baixinha. Essas coisas não caem do céu. Ela sonha, mas não trabalha para mudar sua vida.
PLAYBOY: Você queria algo mais firme?
SENNA: Tanto é que investi para isso.
PLAYBOY: Não foi correspondido?
SENNA: Não. E eu já tive diversos relacionamentos para saber o que desejo. Não quero o aqui e o agora. Busco o futuro. Da maneira como estava indo, a Xuxa seria apenas mais uma. Eu não queria isso, de forma alguma. Resolvi que não era por aí.
PLAYBOY: Quem tomou a iniciativa de terminar o namoro?
SENNA: Tanta gente está se mordendo para saber, não? Com certeza, não vai sair da minha boca. Pode sair de pessoas próximas a ela, que sabem de tudo.
PLAYBOY: Mas, afinal, a Marlene Mattos atrapalhou o namoro?
SENNA: Ela não ajudou nem um pouco.
PLAYBOY: Você já amou profundamente uma mulher?
SENNA: [Depois de refletir.] Me conhecendo como eu me conheço, tendo passado por várias separações dolorosas nos últimos doze anos [longo silêncio], posso dizer que uma única vez, em toda a minha vida, senti lá dentro o desejo de ter uma nova família. Uma única vez, em toda a minha vida, sonhei em ter uma criança. Foi… com ela. Com a Xuxa.
PLAYBOY: Você já foi casado, mas não gosta de falar sobre o assunto. Por quê?
SENNA: Tem coisas que pertencem só a gente, e não se comenta toda hora. Mas talvez seja o momento de conversar sobre isso. Casei em fevereiro de 1981, com uma amiga de infância [Lílian Vasconcelos Sousa]. Eu estava começando a correr na Europa, e nos mudamos para lá. Ela cozinhava muito bem, por sinal. Uma série de coisas aconteceram, e voltei ao Brasil, oito meses depois, para trabalhar nos negócios do meu pai e deixar as pistas. Não deu certo e, em março de 1982, decidi mudar de novo a minha vida, voltar para a Europa, para as pistas, e me separar.
PLAYBOY: A Lílian não cabia nos seus planos?
SENNA: O casamento foi um erro. Éramos muito jovens. Não dava para insistir em um equívoco que se transformaria em um problema ainda maior caso viessem crianças, por exemplo. Não me arrependo, principalmente porque tudo aconteceu sem mágoas. Não temos contato, mas sei que ela formou uma nova família e é feliz.
PLAYBOY: Vocês não chegaram a se amar?
SENNA: Não vou entrar nesse detalhe. Mas não me arrependo de nada.
PLAYBOY: Durante um tempo, correu o boato de que seu casamento teria sido anulado. Havia fundamento nisso? [No Brasil, um casamento só pode ser anulado, na maioria dos casos, quando é comprovado o chamado erro essencial em relação ao cônjuge.]
SENNA: Nunca abro minha vida amorosa e não apareço em público com mulheres. Como foi impossível me destruir nas pistas, usaram o meu jeito de agir para inventar essas histórias, questionando o quanto homem eu sou, o quanto deixo de ser. É outra experiência muito triste na minha vida. A moral de uma pessoa é intocável. Esta conversa de anulação foi outra invenção absurda. Não existiu absolutamente nada. Foi um processo normal, com desquite e divórcio. Jamais coloquei um fim nisso porque não tinha nada a temer ou a provar. Mas não há mentira que resista ao tempo. Entra mês, sai mês, fatos normais da minha vida vão pouco a pouco derrubando esse assunto desagradável.
PLAYBOY: Uma associação de pilotos atuante não poderia ao menos equilibrar esses interesses? No caso de sua briga com Balestre, por exemplo, ela não teria um papel importante?
SENNA: A união entre os pilotos funcionou em alguns períodos, mas hoje é completamente inviável. Os interesses colidem. Existe alguns que, pela posição que ocupam, têm muita força — mas estão do outro lado da cerca. Há os que, em equipes menores ou posições secundárias, têm pouco poder de fogo. Nem perco meu tempo pensando em um movimento desses.
PLAYBOY: Quando usou a palavra “nojento”, você certamente não estava se referindo às belíssimas mulheres que circulam nos bastidores do circo. É difícil não cair em tentação?
SENNA: É difícil, lógico. já resisti a esse assédio, já deixei de resistir, já me aconteceu de tudo.
PLAYBOY: Seu treinador físico no Brasil, Nuno Cobra, garante que você é um campeão não apenas com a McLaren, mas também com outras “máquinas”…
SENNA: [Tímido, toma um copo de suco antes de responder.] Não me lembro de reclamações. Sou muito carinhoso.
PLAYBOY: Você já falhou?
SENNA: Já — uma única vez, em 1982. Eu era meio garoto, estava começando no automobilismo, na Inglaterra. Ela era superatraente. E aconteceu, né? Não é que falhei, mas fui obrigado a me empenhar para manter a… performance.
PLAYBOY: Teve que acionar o turbo?
SENNA: [Risos.] Na época não existia turbo. Tampouco meu condicionamento era bom, como diz o Nuno Cobra. Mas foi ótimo que tenha acontecido isso. Até os 20 anos, mantive relacionamento com mulheres apenas pela atração física. Nesta ocasião, tive um sinal de que já não funcionava da mesma maneira. Começava a tomar conta de mim o lado astral, de dar importância à personalidade e a certos detalhes especiais. Foi um marco, o início de uma grande mudança.
PLAYBOY: E a primeira vez, como foi?
SENNA: Primeira vez? Bem, eu tinha 13 anos. Lembro que saí com um primo mais velho, de 20, e fomos a uma boate no centro de São Paulo. Eu era um catatauzinho naquela idade, e não consegui entrar. Fiquei na porta, dentro do carro, olhando as pessoas que entravam no lugar. De repente, vi chegar uma mulher enorme, enorme mesmo. Dali a pouco sai meu primo da boate com aquele mulherão. E foi minha primeira vez.
PLAYBOY: Era loura ou morena?
SENNA: [Rindo muito.] Não vem ao caso.
PLAYBOY: Por quê?
SENNA: Porque não.
PLAYBOY: Por que tanto mistério?
SENNA: Era loura. Foi um barato. Mais tarde percebi que não tinha nada a ver, mas na época foi bom. Aos 13 anos, é difícil para o homem encontrar uma namoradinha para transar. Mesmo as meninas de 15 anos, que têm uma cabeça aberta e já curtem, procuram garotos de 18 anos. Não tive a menor chance.
PLAYBOY: Só uma dúvida: a primeira vez foi no carro?
SENNA: [Risos.] Não. Foi no apartamento dela. Tudo muito bem realizado.
PLAYBOY: Quanto tempo, nessa vida agitada, de piloto, você já ficou sem transar?
SENNA: Perdi a conta, para dizer a verdade… Puxa, é uma coisa tão pessoal! [Silêncio.] Acho que foi quando me separei. Fiquei seis meses sem encostar a mão em uma mulher.
PLAYBOY: Por quê?
SENNA: Não estava a fim. É uma situação difícil, mas as coisas se passaram dessa maneira. Pintavam oportunidades, mas não estava preparado, não tinha cabeça para isso. Não encontrava alguém interessante, que me motivasse. Eu tenho um padrão muito elevado.
PLAYBOY: Você leva cantada de fãs?
SENNA: Levo. Uma vez, na Itália, uma maluca bateu na porta do meu quarto no hotel. Eu abri e ela foi me empurrando para dentro.
PLAYBOY: E aí?
SENNA: Empurrei de volta para fora. [Risos.] Foi engraçado.
PLAYBOY: Você nunca retribuiu?
SENNA: Já aconteceu. Em 1988, depois do GP do Canadá, uma inglesa me pediu um beijo, usando inclusive um termo — hug — que eu não conhecia. E perguntou: “Can you have a hug?” [Posso ter um abraço?] Me assustei, e a Lisa, mulher do Ron Dennis, que é americana, me explicou o significado. Imediatamente respondi: “Why not?”
PLAYBOY: Sexo antes das corridas atrapalha?
SENNA: Pelo contrário. Me sinto bem. Dá um grande equilíbrio na hora de encarar a prova.
PLAYBOY: Você já sentiu dor de barriga no meio de uma corrida?
SENNA: Só antes da largada — várias vezes, por sinal. Durante uma prova, já me aconteceu coisa pior. Tive espasmo muscular por todo o corpo, a ponto de não poder respirar de tanta dor. Foi na minha segunda corrida de F-1, 1984. Não estava preparado fisicamente para correr durante 2 horas, naquele calor, perdendo líquido. Fui até o final pela ânsia de chegar e marcar o primeiro ponto.
PLAYBOY: Quantos quilos você emagrece em cada prova?
SENNA: Dois quilos, em média. Se faz calor, três. Mas é algo que se repõe rapidamente, bebendo água.
PLAYBOY: Como é seu preparo, antes e depois das corridas?
SENNA: Desde 1984, sigo um programa de condicionamento físico. De dezembro a março, quando não há provas, fico no Brasil e corro cinco dias por semana, de 8 a 10 km, no centro esportivo da USP. Depois viajo e procuro manter o ritmo. Na McLaren tem também uma pessoa que me acompanha, faz massagem, cuida da alimentação na época dos treinos. Como muita verdura, carboidratos, peixe, frango e massa e evito carne vermelha. No café da manhã, costumo comer cereais, fibras e frutas. Na época da corrida, de quinta a domingo, a alimentação é muito mais controlada.
PLAYBOY: O que mais muda no seu dia a dia?
SENNA: Tudo. Tenho horário para tomar café, chegar à pista, entrar no carro, sair, almoçar, voltar para o carro. Cada passo é cronometrado, segundo a segundo, e o trabalho é duro, non stop. Na noite anterior à corrida, procuro dormir cedo, pois levanto entre 7 e 8 da manhã. Essas regras variam de país para país, mas a rotina é quase sempre a mesma. O objetivo é chegar na hora da corrida com o maior equilíbrio possível.
PLAYBOY: E como fica seu coração na hora da prova?
SENNA: Pior que o de muito torcedor! Minha frequência cardíaca, em dias normais, é de 60 batimentos por minuto. Na largada, eles chegam a 150. Nos picos da corrida, a 190.
PLAYBOY: Tudo isso é medo?
SENNA: E tensão, preocupação em não errar na troca de marchas ou na ultrapassagem. O medo vem antes da corrida, quando estou só, comigo mesmo. O risco de acidentes é uma constante em minha vida. Tenho muito receio, não só de morrer como de me machucar. O que é bom, pois é um sentimento de preservação da vida, que não me deixa passar de certos limites.
PLAYBOY: Qual foi o pior acidente em que você já se envolveu?
SENNA: Graças a Deus, até hoje só quebrei um dedo, numa batidazinha boba de kart em Interlagos, em 1974.Dez anos depois, tive uma batida mais feia no circuito de Hockenheim, na Alemanha, uma pista superveloz. O aerofólio da minha Toleman quebrou e dei seis voltas de 360 graus, a 280 quilômetros por hora. Não deu tempo nem de fechar o olho. A única coisa em que consegui pensar foi na frente do carro. Me firmei no cockpit e rodei para bater de traseira. É a melhor posição para se tomar uma pancada. De frente, pode ser fatal, e de lado também é perigoso. Este foi meu acidente mais grave. Mas já passei por uma situação de risco muito maior.
PLAYBOY: Como foi?
SENNA: Na tomada de tempo para a corrida de Mônaco de 1988. Eu já tinha conseguido a pole, mas continuei na pista. A cada nova volta, aumentava a diferença para os outros pilotos, até que cheguei a ficar 2 segundos na frente — o que é uma eternidade numa corrida. Eu estava me superando a cada volta, e simplesmente entrei em outra dimensão. Por causa da velocidade, as referências de espaço e de tempo se modificaram. Não via a pista, ela tinha virado um túnel. A distinção entre o homem e a máquina deixou de existir: me fundi com o carro, viramos a mesma coisa. Depois de cinco voltas, tive um estalo, uma agulhada, e acordei para a situação de extremo perigo em que estava. Meu corpo começou a tremer, e fui para os boxes.
PLAYBOY: Levou um tremendo susto?
SENNA: Lógico. Fiquei morrendo de medo. Eu conseguia controlar o carro, mas estava entrando no inconsciente. E por aí não conheço, não sei o que pode acontecer.
PLAYBOY: Muitas pessoas acham que, para passar a vida dando voltas numa pista e se arriscando, só sendo meio pirado. O que você pensa disso?
SENNA: Quem não tem equilíbrio não sobrevive nesse esporte.
PLAYBOY: Você faz terapia?
SENNA: Já fiz duas vezes — uma há dois anos, e a outra no final de 1988. Me conheci melhor, foi muito bom. Se tivesse tempo, voltaria às consultas, sem dúvida.
PLAYBOY: Sua vida fora das pistas também é uma corrida contra o relógio?
SENNA: Em termos. Poderia ter dezenas de atividades, inclusive promocionais, que me trariam muito dinheiro. Mas recuso, porque as corridas consomem quase toda a energia. Na Europa, procuro descansar o máximo possível. Deito cedo, durmo até meio dia e quase não saio de meu apartamento em Montecarlo. Nem para almoçar ou jantar. A Isabel, uma portuguesa que trabalha comigo, cozinha muito bem. No final da tarde, faço cooper. Mas procuro ficar o menor tempo possível na Europa. Se tenho uma semana livre, volto ao Brasil.
PLAYBOY: E aqui, o que você faz?
SENNA: Fico o mais longe possível de meu escritório, senão eles me arrumam trabalho [risos]. Gosto de ficar em casa, com meus três sobrinhos. Viajo também para minha fazenda, em Tatuí, no interior de São Paulo. Lá tem dois lagos enormes, onde brinco de jet-ski, esqui aquático, barco de radiocontrole. Tem também uma pista de kart, onde aposto corrida com Bruno, meu sobrinho de 5 anos. Ando de moto, bicicleta, faço cooper. Enfim, curto tudo o que amo, e que fica longe de mim tanto tempo.
PLAYBOY: Você lê muito?
SENNA: Bem pouco. Não tenho paciência. É um grande defeito.
PLAYBOY: Nem o que publicam a seu respeito?
SENNA: Muito pouco.
PLAYBOY: E cinema?
SENNA: Gosto de filmes que não sejam parados.
PLAYBOY: De música você gosta bastante, não é?
SENNA: Adoro. Viajo sozinho a maior parte do tempo, então levo meu walkman, com duas caixinhas de som. Chego ao hotel e ligo a TV, mas a programação do exterior não tem nada a ver com minha cabeça. Então, fico ouvindo som — qualquer tipo de música, que meu irmão grava para mim. Gosto muito de Gal, Gil… [coça a cabeça] Gilberto… Gilberto Gil, é isso mesmo? Também curto Simone, Elba Ramalho e Caetano.
PLAYBOY: Você vai a shows?
SENNA: Difícil. No exterior, mais por falta de companhia. No Brasil, prefiro ficar em casa.
PLAYBOY: Mas, em São Paulo, você dá suas escapadas noturnas, não?
SENNA: Vou a alguns restaurantes com amigos e já fui em boates. Frequentava o Gallery, mas isso há muito tempo.
PLAYBOY: Até já tomou alguns drinques a mais por lá, não é?
SENNA: [Risos.] Já peguei algum fogo. Mas não bebo muito. Se pinta vinho ou champanhe — Moêt et Chandon, por exemplo —, eu encaro. Depois do GP de Mônaco, recebi amigos no meu apartamento e tomei um cálice de vinho, coisa que não acontecia há muitos anos. Uísque e cerveja, por exemplo, nem pensar.
PLAYBOY: Já experimentou alguma droga?
SENNA: Lança-perfume é droga? Eu já cheirei. Na primeira vez, gostei: mas na segunda, não curti, e parei por aí. Não preciso disso. Mesmo cigarro normal, experimentei e não gostei.
PLAYBOY: E como você se sente sendo patrocinado pela Marlboro?
SENNA: A marca está ali no carro, mas não forço ninguém a fumar. A Philip Morris deu uma contribuição inestimável ao automobilismo. Foi ela que financiou a divulgação do esporte e deu a tanta gente a possibilidade de curtir uma corrida. Vejo por esse lado, e não pelo lado negativo que os outros enxergam, de que o cigarro é ruim, faz mal para a saúde.
PLAYBOY: Mas é ruim, ou não?
SENNA: É indiscutível que não traz muitos benefícios à saúde. Por outro lado, você vê gente que para de fumar e engorda.
PLAYBOY: Quem nunca consumiu cigarro não enfrenta esse problema. Então sua campanha seria: “Nem comece..?
SENNA: Eu admito que… nunca poderia participar de uma campanha desse tipo. Por razões óbvias.
PLAYBOY: já que estamos falando de patrocínio: quanto você tinha guardado no Banco Nacional quando o Plano Collor resolveu fechar as torneiras do país?
SENNA: O suficiente para sentir a paulada. Mas foi uma medida necessária. O presidente Collor é um grande líder, e há muito tempo o Brasil precisava de alguém assim. Acho que ele é muito bom.
PLAYBOY: Você votou nele?
SENNA: Votei, mas só no segundo turno. No primeiro, estava viajando.
PLAYBOY: Enquanto construía Interlagos, a prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, do PT, não tentou ganhar seu voto para o Lula?
SENNA: Não tem nada a ver. Fui procurado por quase todos os candidatos, que queriam apoio. Mas não sou político, não entendo e nem quero. Sou livre e optei por quem buscava o melhor para todos.
PLAYBOY: Os carros brasileiros são mesmo carroças, como disse Collor?
SENNA: Não. O único problema é que têm um custo alto se comparados ao carro europeu e, sobretudo, ao japonês. A restrição à importação de tecnologia dificultou a evolução do produto brasileiro. Com a maior abertura que se está anunciando, a qualidade deve melhorar.
PLAYBOY: Quais são os melhores carros de passeio do mundo?
SENNA: Eu importaria qualquer um da Mercedes, na Europa, e da Honda, no Japão — uma fábrica jovem no mercado, mas que tem um produto incrível. A Toyota e a GM também têm bons carros. Isso porque a competitividade nos países deles é grande. E isto que o presidente Collor pretende trazer para o Brasil.
PLAYBOY: O que você achou de o Arnon, filho dele, pedir a ajuda do primeiro-ministro francês para resolver o impasse de sua briga com o Balestre?
SENNA: Muita gente ficou brava com aquilo. Foi uma coisa pura do garoto, algo bem especial. Eu o conheci no GP do Brasil, mas nem pudemos conversar com aquela confusão tremenda. Dei um broche do meu capacete de presente para ele e para seu irmão também. Eles devem ter guardado.
PLAYBOY: Até o final do campeonato, os brasileiros esperam que você suba ao pódio muitas vezes. Se, em uma delas, Balestre confundí-lo com o Jean Alesi e vier lhe dar um beijo, como fez com o piloto francês em Mônaco, como você vai reagir?
SENNA: Não existe a menor possibilidade de ele se enganar [risos]. Algum dia vou poder falar sobre esse assunto com mais clareza.
Os números da carreira de Ayrton Senna
Equipes: Toleman, Lotus, McLaren, Williams
Títulos: 3 (1988, 1990, 1991)
Vice-campeonatos: 2 (1989, 1993)
Vitórias: 41
GPs: 161
Temporadas: 11 (de 1984 a 1994)
Poles positions: 65
Pódios: 80
Pontos: 614
Voltas mais rápidas: 19
Abandonos: 60
Voltas lideradas: 2931 voltas
Hat-trick (pole, vitória e volta mais rápida): 7
Grand chelem (pole, volta mais rápida e vitória de ponta a ponta): 4
Tommie Smith e John Carlos protagonizaram protesto pela vida do povo negro norte-americano
O dia é 16 de outubro de 1968. O segundo dia das provas de 200 metros rasos nas Olimpíadas da Cidade do México. O norte-americano Tommie Smith, “O Jato”, justificou seu favoritismo e levou o ouro com o tempo de 19,83 segundos.
O compatriota John Carlos levou o bronze. Ao cruzarem a linha de chegada, se abraçaram e fizeram os últimos ajustes para o protesto que entraria para a história do esporte.
Retiraram os sapatos e trajavam meias pretas. Subiram no pódio, receberam as medalhas e, ao tocar o hino dos Estados Unidos, eles não ergueram o rosto em respeito à nação, mas baixaram a cabeça e ergueram o punho, usando luvas pretas: a saudação dos Panteras Negras, organização política socialista e revolucionária norte-americana, fundada dois anos antes com o objetivo de organizar a população negra para enfrentar a violência causada pela polícia nos bairros negros. O maior atacante da história de Portugal, Eusébio (ex-Benfica), além dos brasileiros Sócrates (ex-Corinthians) e Reinaldo (ex-Atlético-MG) celebravam seus gols repetindo o gesto.
Os anos 1960 foram duros para a população negra norte-americana, com os assassinatos de Malcolm X (1965) e Martin Luther King Jr (1968). Além disso, os EUA estavam no meio da Guerra do Vietnã (1955-1975), de onde sairia derrotado e com aproximadamente 60 mil soldados mortos – em sua maioria negros. No esporte, o pugilista Muhammad Ali, campeão olímpico e mundial de boxe, perdeu seu cinturão em 1967 por se negar a ir lutar na Guerra.
Estimulados pelo também negro professor de sociologia Harry Edwards, da universidade em que eram bolsistas Tommie Smith e John Carlos, atletas negros de várias modalidades fundaram a associação Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos (OPHR). Alguns membros, como a estrela do basquete Kareem Abdul-Jabbar, boicotaram os jogos olímpicos. Mas Tommie Smith e John Carlos foram, ganharam as medalhas e protestaram no pódio.
v]Mas o protesto em defesa das vidas negras não foi bem recebido pelas autoridades e imprensa. Os atletas foram duramente criticados até pelo Comitê Olímpico Internacional, que disse que não se pode misturar política e esporte.
A dupla de corredores teve seus vistos de permanência no México imediatamente cancelados e, no dia seguinte, foram expulsos da Vila Olímpica. Seus companheiros corredores do revezamento 4×400 quiseram abandonar os jogos, mas os medalhistas os convenceram a competir. Lee Evans, Larry James, Ron Freeman correram e levaram o ouro. No pódio, usaram boinas, outro símbolo dos Panteras Negras.
A dupla foi condenada ao esquecimento durante muitos anos até começarem a ser reconhecidos como símbolos da luta do povo negro norte-americano.
O homem branco
Junto a Tommie Smith e John Carlos está o australiano Peter Norman, o homem branco em segundo lugar no pódio. Naquela noite o corredor fez os 200 metros em 20,06 segundos, que permanece até hoje, 50 anos depois, como recorde nacional da Austrália para a modalidade. Ele não é negro e não ergueu o punho, mas usou o distintivo da OPHR no pódio como forma de demonstrar apoio ao protesto dos companheiros norte-americanos.
Na Austrália se vivia um momento de grande violência racista contra os aborígenes, população nativa da ilha continental. Norman também acabou relegado ao esquecimento pelas autoridades e se tornou alcoólatra. Mesmo décadas depois, nas Olimpíadas de Sidney 2000, nenhuma homenagem foi feita ao recordista nacional. Tommie Smith e John Carlos estiveram em seu funeral, em 2006.
Há exatos 10 anos, Brasil sofreu sua maior derrota na história
08/07/2014, uma data que não conseguimos apagar da mente. Nesta data o Brasil sofreu sua maior derrota, uma ferida que ainda não fechou. Vamos recordar algumas capas de jornais da época?
Os Jogos Olímpicos de 1924 em Paris marcaram um ponto de virada na história do evento, trazendo uma nova era de grandiosidade e tradição
Ao contrário dos Jogos anteriores, que foram considerados fracassados, esta edição foi cuidadosamente planejada e organizada para proporcionar uma experiência memorável tanto para os atletas quanto para os espectadores.
Uma das principais mudanças foi a construção de um suntuoso complexo olímpico para hospedar as diversas modalidades esportivas. O destaque foi o Estádio Olímpico de Colombes (Yves-du-Manoir), um moderno e confortável estádio com capacidade para 60 mil pessoas. Nas paredes deste estádio, foram gravados em mármore os nomes dos campeões olímpicos destes Jogos, eternizando suas conquistas.
Além disso, pela primeira vez na história olímpica, os atletas foram acomodados em uma pequena vila olímpica, composta por várias casas de madeira. Essa inovação proporcionou um ambiente acolhedor e promoveu a interação entre os competidores de diferentes países, fortalecendo o espírito de união e amizade que permeia os Jogos Olímpicos.
Outra novidade introduzida nos Jogos de 1924 foi o uso do lema olímpico “Citius, Altius, Fortius”, que significa “mais rápido, mais alto, mais forte” em latim. Este lema foi cunhado por um monge francês chamado Frei Henri Didon e reflete a busca constante por superação e excelência que caracteriza os atletas olímpicos.
Na cerimônia de encerramento, três bandeiras foram hasteadas lado a lado: a bandeira olímpica, a do país anfitrião (França) e a do próximo país a sediar os Jogos. Essa tradição simboliza a passagem do espírito olímpico de uma nação para outra, mantendo vivo o legado e a união entre os povos através do esporte.
Durante a abertura dos Jogos, o presidente francês Gaston Doumergue teve a honra de declarar oficialmente o início das competições. Esse momento solene marcou o compromisso da França em sediar um evento de excelência e proporcionar uma experiência inesquecível para os atletas e espectadores.
Os Jogos Olímpicos de 1924 em Paris foram um marco na história do evento, estabelecendo padrões de organização e grandiosidade que perduram até hoje. Essa edição foi responsável por elevar a reputação dos Jogos Olímpicos e fortalecer sua importância como um evento esportivo de alcance global.
As imagens da época retratam a emoção e a dedicação dos atletas, bem como a beleza e a grandiosidade das instalações olímpicas. Esses Jogos foram um exemplo de como o esporte pode unir nações e inspirar pessoas de todo o mundo a alcançar o seu melhor.
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