Serviço especial de trens expressos da ViaMobilidade vai operar nos dias 01, 02 e 03 de novembro, proporcionando transporte direto até o Autódromo de Interlagos
A ViaMobilidade, concessionária responsável pela operação da Linha 9–Esmeralda, disponibilizará um serviço especial de trens expressos para facilitar o deslocamento dos fãs ao GP São Paulo de Fórmula 1, que acontecerá nos dias 01, 02 e 03 de novembro. O Expresso GP SP sairá das estações Pinheiros e Morumbi, com destino direto à estação Autódromo, reduzindo o tempo de viagem para 25 minutos.
“O Expresso GP SP uma ótima opção para aqueles que desejam evitar o trânsito intenso e as ruas bloqueadas ao redor do autódromo, proporcionando uma chegada rápida, confortável e segura”, comenta Márcio Hannas, presidente da CCR Mobilidade.
A venda de bilhetes exclusivos, válidos para ida e volta, já está disponível e pode ser realizada pelo site Passaporte Mobilidade por R$ 30,00. O embarque será feito em plataformas exclusivas, sem interferir no fluxo dos passageiros do serviço regular da Linha 9–Esmeralda, garantindo uma experiência fluida e eficiente.
OKX Race Club, em parceria com a McLaren Racing, oferece aos fãs brasileiros uma experiência única que combina passado, presente e futuro
A OKX, uma plataforma líder em tecnologia onchain e parceira oficial da McLaren Racing, tem o prazer de anunciar o lançamento do OKX Race Club. Esta zona exclusiva para fãs, localizada no icônico edifício B32 na Faria Lima, ocorrerá de 31 de outubro a 3 de novembro de 2024, oferecendo aos fãs de automobilismo em São Paulo uma experiência imersiva.
O OKX Race Club não é apenas uma celebração do automobilismo, mas também uma homenagem ao legado de Ayrton Senna. Já no primeiro dia, os fãs terão a chance de ver de perto o carro MP4/5B, usado por Senna para conquistar seu segundo campeonato mundial em 1990. Durante todo o evento, o público verá o carro da McLaren Fórmula 1 de 2024, adornado em verde e amarelo para o GP de Mônaco, em homenagem ao icônico piloto brasileiro.
A abertura da fan zone em 31 de outubro também contará com a presença especial do bicampeão mundial de F1 Emerson Fittipaldi, que também é embaixador da McLaren.
Por meio de sua parceria de longa data com a McLaren Racing, a OKX busca conectar os fãs ao glorioso passado do automobilismo e ao futuro inovador das tecnologias Web3. O evento oferecerá atividades interativas, como simuladores de corrida e brindes exclusivos, além de apresentar as ofertas digitais da OKX. A zona de fãs será um local imperdível para os entusiastas do automobilismo durante a semana da corrida.
O Diretor da OKX no Brasil, Guilherme Sacamone, afirmou: “A fan zone é uma celebração do legado de Senna e um testemunho da profunda conexão da OKX com o Brasil. Senna redefiniu o que era possível no automobilismo, oferecendo uma nova alternativa ao que os fãs esperavam das corridas. Na OKX, nos inspiramos em seu espírito, buscando fornecer aos brasileiros uma ‘nova alternativa’ em liberdade financeira, por meio de produtos e serviços inovadores, projetados especificamente para suas necessidades.”
Serviço OKX Race Club
Datas: 31 de outubro a 3 de novembro, das 12h às 21h Local: Theatro B32 – Av. Brig. Faria Lima, 3732 – Itaim Bibi, São Paulo Inscrições gratuitas disponíveis aqui.
Sobre a Parceria OKX e McLaren
A parceria entre a OKX e a McLaren Racing, estabelecida em 2022 e expandida em 2024, reafirma o compromisso da OKX em integrar a tecnologia onchain com o mundo do automobilismo, proporcionando experiências únicas e inovadoras aos fãs.
Em maio de 2022, a OKX e a McLaren Racing anunciaram uma parceria de vários anos, que tornou a OKX uma Parceira Primária da Equipe McLaren de Fórmula 1 e da Equipe McLaren Shadow F1 de Simulação de Corrida. OKX e McLaren Racing expandiram sua parceria em janeiro de 2024, com o logotipo da OKX aparecendo nas laterais dos carros da McLaren F1 em 20 corridas da temporada 2024, além de outros posicionamentos da marca OKX no carro. Recentemente, a OKX lançou também uma coleção digital (NFT) gratuita chamada ‘Race Reward’, oferecendo aos fãs um artefato comemorativo de cada grande prêmio.
Honda e a McLaren trarão ao Brasil o icônico MP4/5B, que fará uma volta na pista de Interlagos, veículo que levou Senna ao título de 1990
Em homenagem ao legado de Ayrton Senna, os fãs de Fórmula 1 e admiradores do piloto terão uma oportunidade única de reviver a história do automobilismo durante Fórmula 1 Lenovo Grande Prêmio de São Paulo 2024. A ação, intitulada SENNA SEMPRE, faz parte das homenagens que serão feitas ao maior ídolo nacional do automobilismo no autódromo este ano, celebrando três décadas de seu legado.
A Honda e a McLaren trarão ao Brasil o icônico MP4/5B, o carro original com o qual Senna conquistou o Campeonato Mundial de 1990. O modelo dará uma volta na pista, ao som do histórico tema da vitória, no final de semana do GP São Paulo. O piloto que conduzirá essa relíquia já foi definido, mas sua identidade será mantida em segredo até o momento da apresentação.
Após essa volta na pista, o MP4/5B será posicionado próximo à área de boxes, onde ficará em exibição para o público que participará do Pit Lane Walk, no caminho para a área. Essa visitação exclusiva permitirá que os espectadores vejam esse ícone da história da Fórmula 1, revivendo momentos marcantes da carreira de Ayrton Senna.
A organização do GP São Paulo de F1 convida todos os presentes a comparecer ao evento nas cores verde e amarelo, tornando-se parte da celebração a um dos maiores ídolos do esporte brasileiro.
Essa iniciativa da Honda e da McLaren celebra os 30 anos do legado da vitoriosa trajetória de Senna e sua profunda conexão com os fãs brasileiros.
O evento promete ser um dos pontos altos da edição deste ano, oferecendo uma experiência inesquecível para todos os apaixonados pelo automobilismo.
A parceria entre a McLaren e a Honda deixou uma marca indelével na história da equipe. Durante uma era de sucesso sem precedentes, entre 1988 e 1992, a McLaren-Honda conquistou impressionantes 44 das 80 corridas em que participou. Ayrton Senna foi coroado Campeão Mundial em 1988, 1990 e 1991, todos com esta equipe. Naquela época, a McLaren-Honda era indiscutivelmente a equipe dominante da Fórmula 1.
Formula 1 Lenovo Grande Prêmio de São Paulo 2024
Datas: 01, 02 e 03 de novembro – Local: Autódromo de Interlagos – São Paulo
McLaren buscava um novo parceiro para substituir Honda e Lamborghini foi uma das tentativas
A Fórmula 1, como quase todos os esportes—motorizados ou não—está cheia de suposições, histórias e promessas. Pilotos que eram candidatos ao título e carros feitos para dominar as pistas, mas que nunca conseguiram. Também há parcerias que quase foram fechadas, mas que acabaram antes de começar. A McLaren Lamborghini é um excelente exemplo disso.
Este carro, um dos mais fascinantes casos de “e se…” na história da Fórmula 1, combinava um excelente chassi da McLaren com um potente motor V12 da Lamborghini. Esta McLaren não ficou só no papel. Ela se materializou, mostrou-se extremamente rápida e até recebeu a aprovação de Ayrton Senna, que a testou no Circuito do Estoril, Portugal, em 1993. Mas Ron Dennis, o chefe da McLaren na época, tinha outros planos e não deixou que ela chegasse às pistas. Mas, por quê?
Primeiro, é preciso lembrar que a temporada de 1993 não foi fácil para a equipe britânica. A Honda, que fornecia os motores, anunciou repentinamente que iria deixar a Fórmula 1. Isso deixou a McLaren em uma situação complicada, forçada a encontrar um novo fornecedor de motores em poucos dias.
Para complicar ainda mais, a McLaren enfrentava uma equipe Williams fortíssima, impulsionada pelo motor V10 da Renault, em uma relação de exclusividade que inviabilizava qualquer acordo entre a Renault e a McLaren. Ciente de tudo isso, Ron Dennis firmou uma parceria com a Ford-Cosworth para o fornecimento do motor V8. Mas dizem que esses motores eram menos potentes do que os que a Ford fornecia à Benetton, sua principal equipe.
Além disso, o ambiente dentro da equipe começou a deteriorar. Ayrton Senna, esperto, já previa os tempos difíceis que viriam e mostrou vontade de sair. Dizem que o piloto brasileiro chegou a renovar contrato corrida a corrida, deixando sempre aberta a possibilidade de mudança.
Senna percebeu rapidamente que continuar com os motores V8 da Ford-Cosworth não era uma opção viável para a temporada de 1994, e Ron Dennis começou a procurar alternativas. É aqui que entra a Lamborghini, presente na Fórmula 1 desde 1989 como fornecedora de motores V12 para várias equipes menores, como a Larrousse, vista como uma espécie de equipe de fábrica da marca italiana. Em qualquer equipe em que o V12 da Lamborghini foi utilizado, o resultado foi além de muitas dores de cabeça, mostrando-se sempre pouco confiável. Mas todos admitiam que aquele motor tinha potencial para oferecer muito mais.
Lamborghini na F1
A norte-americana Chrysler comprou a Lamborghini em 1987 e um dos focos era justamente competir na F1. Em 1989, o fornecimento de motores começou para a Lola, uma das pequenas do grid. Em 1990, a marca expandiu e também começou a equipar os carros da Lotus.
Em 1991, a Lamborghini esteve com os carros da Modena e da Ligier. O resultado foi um fracasso, sem marcar pontos com as duas equipes. Em 1992, as equipes foram Minardi, do brasileiro Christian Fittipaldi, e Larrousse. Em 1993, somente a Larrousse permaneceu com os motores Lambo. No total foram 80 Grandes Prêmios.
Os testes do “McLambo”
O primeiro teste de Senna com o motor da Lamborghini foi no dia 23 de setembro de 1993, com um carro era completamente branco, sem patrocínios. O brasileiro mostrou empolgação com a nova máquina, mas a McLaren fechou surpreendentemente com a Peugeot, que forneceu unidades de dez cilindros no ano seguinte para o time britânico.
Piloto de testes da McLaren até a 13ª corrida da temporada, Mika Hakkinen assumiu o posto de segundo piloto da equipe justamente no GP de Portugal, após um desempenho decepcionante do norte-americano Michael Andretti na categoria. No entanto, o finlandês também testaria o motor Lamborghini em Silverstone depois e cravaria um tempo 1s2 melhor do que aquele estabelecido com os motores Ford em 1993 no final de semana do GP da Inglaterra.
Senna, inclusive, já queria utilizar o novo motor nos últimos três GPs da temporada (Portugal, Japão e Austrália). No entanto, o tricampeão admitia que mais potência e sofisticação eram necessárias para adquirir mais competitividade. “Estou certo que será um ótimo motor para a próxima temporada”, disse Ayrton na época, que vivia também a indefinição de onde correria em 1994.
Os motores Peugeot escolhidos para 1994 não duraram mais de uma temporada na equipe. Após a saída de Ayrton para a Williams, a McLaren não venceu corridas em 1994 e trocou o fornecedor no ano seguinte, firmando uma parceria longa e duradoura com a Mercedes (1995-2014), que culminou com conquistas do Mundial com Hakkinen (1998-1999) e o primeiro título de Lewis Hamilton na F1 (2008).
Bastidores polêmicos
O que poucas pessoas souberam na época é que a McLaren já havia feito um acerto financeiro com a Peugeot antes dos testes com o motor Lamborghini e por isso o acordo com a Lambo não foi para a frente. Quem confirmou isso foi Martin Whitmarsh em depoimento ao britânico Tony Dodgins, autor do livro Ayrton Senna: All his Races.
Whitmarsh era um dos chefões da McLaren junto com Ron Dennis e lembrou do dia em que ambos foram na sede da Lambo.
McLaren Peugeot em 1994
“A Lamborghini chegou e nos mostrou os dados de telemetria e o motor era fantástico, com 50 ou 60 cavalos a mais do que o que nós tínhamos (Ford), e com 30 kg mais leve. Mas eu não acreditei naqueles dados porque eu via o quanto aqueles carros (da Larrousse) eram lentos. Eu lembro que fui na Lamborghini e colocamos o motor no dinamômetro e realmente vimos a agulha girar e alcançar os números de potência que eles realmente afirmavam”, disse Whitmarsh.
A decepção de Senna
“No final, não achamos que a Chrysler honraria o compromisso (de desenvolver o motor) e fizemos um acordo com a Peugeot em 1994. Contratualmente, apesar de termos testado esse motor da Lamborghini e até antes de executá-lo, eu disse ao gerente da equipe, Dave Ryan, o que deveria acontecer com o carro (no teste). Não deveria ir mais rápido que X. Se isso acontecesse, nos iria causar alguns grandes problemas contratuais. E acrescentei: ‘Mas não se preocupe, não vai (acontecer)’.
“Dave me ligou da pista e disse ‘Olha, eu não consigo parar o crescimento desse carro, ele está indo muito rápido. Parece ótimo e tem o Ayrton dentro’. Então eu disse a ele para colocar 100 kg de combustível e não dizer nada a ninguém.
“Aquilo era uma verdadeira bagunça e eu estava tendo que administrar isso. Mas o Ayrton, obviamente, percebeu que era mais rápido que o carro de motor Cosworth e queria competir com o Lamborghini nas últimas três corridas de 1993. Ele estava muito chateado que nós não faríamos isso”.
Mesmo sem os Lambo, a McLaren mostrou um desempenho melhor no final daquela temporada e venceu as últimas duas corridas com Senna no Japão e na Austrália, justamente as duas últimas vitórias do piloto brasileiro na F1. Após a decepção com a McLaren, a Lamborghini nunca mais voltou a correr na categoria.
Abaixo, alguns trechos de entrevista histórica de Ayrton Senna à jornalista Mônica Bérgamo para a revista Playboy em agosto de 1990
PLAYBOY: O Nelson Piquet alimentou a discussão ao declarar que você não gosta de mulher. Como isso o afetou?
SENNA: Fiquei… muito triste. Foi uma campanha altamente destrutiva. Não me anularam na pista, quiseram me derrotar pelo lado pessoal. Falharam mais uma vez.
PLAYBOY: Essas insinuações acabaram envolvendo Américo Jacoto Júnior, assessor que o acompanhava em quase todas as corridas. E você o demitiu, não foi?
SENNA: O Júnior… ele era um amigo de infância, era como um irmão para mim. Foi muito triste usarem um argumento tão absurdo, tão mentiroso, para me destruir e atingir alguém de quem eu gosto. Mas não foi uma demissão. Na verdade, o Júnior era mais um amigo do que um assessor. Tinha acabado a faculdade, estava à toa, e eu o convidei para viajar. Foi ótimo, porque ele conheceu o exterior, aprendeu idiomas, e era uma companhia excepcional…
PLAYBOY: Vocês não se afastaram por causa da polêmica criada pelo Piquet?
SENNA: É, existiu um afastamento, a amizade nunca mais voltou a ser a mesma. Foi uma destruição muito grande… [Senna fica tenso e faz um longo silêncio.] É melhor ficar quieto. Eu ia falar uma coisa aqui… não quero falar.
PLAYBOY: O quê?
SENNA: Não, não… nada.
PLAYBOY: Alguma coisa sobre esse assunto?
[Senna desliga o gravador e faz um desabafo emocionado sobre Piquet. Pede para que se mude de assunto.]
PLAYBOY: Por que você não aproveita e esclarece o episódio de uma vez?
SENNA: [Silêncio.]
PLAYBOY: Você o processou por isso. A retratação dele na Justiça foi suficiente?
SENNA: Irrelevante. Ele negou que tinha dito. Foi tudo um jogo baixo, sujo.
PLAYBOY: Você namorou a Katherine, atual mulher dele, antes de os dois casarem, não é?
SENNA: Não namorei. Mas… eu a conheci.
PLAYBOY: Conheceu como?
SENNA: [Emocionado.] Eu a conheci como mulher. É curto e grosso. Eu a conheci como mulher.
PLAYBOY: Você nunca havia dito isso. Não seria um motivo suficiente para que Piquet não lançasse dúvidas a seu respeito?
SENNA: Não há nada que sustente o argumento de que eu não gosto de mulher.
PLAYBOY: Você acha que…
[Senna desliga o gravador, negando-se a responder qualquer outra pergunta sobre o assunto.]
PLAYBOY: Sua paixão pelas corridas dá a impressão, às vezes, de que você não pensa em nenhuma outra coisa. Só em carros.
SENNA: Quando estou trabalhando, meu compromisso com a vitória é total. Não tenho tempo de falar com a imprensa sobre o que eu acho ou deixo de achar. Isso só acontece em momentos especiais. Como nesta entrevista. São oportunidades raras, mas tão ricas em qualidade que mesmo quem me acha frio, sem perceber, acaba gostando de mim.
PLAYBOY: Você é uma pessoa solitária?
SENNA: A solidão me toca em muitos momentos. Mas tenho fé de que vou encontrar a pessoa ideal para dividir minha vida. Sou inquieto, faço com que as coisas aconteçam. No campo emocional, porém, assumi uma paz interior, reforçada pela ideia de que na hora certa essa pessoa vai chegar. Cabe a mim ter paciência. Por outro lado, não vivo sozinho. Estou em contato diário com aqueles que amo no Brasil. Telefono para meus pais, para meus irmãos, Viviane e Leonardo, mais de uma vez por dia. Nunca estou só. Nunca estive só.
PLAYBOY: O segundo casamento está em seus planos?
SENNA: Por que não? Só que pretendo acertar em cheio desta vez. Quero ter filhos — um casal seria muito bom. Mas não podemos escolher, não é? Depende da vontade de Deus.
PLAYBOY: Quando seu filho fizer 4 anos, você vai dar a ele um carrinho de kart, como seu pai fez com você?
SENNA: Se ele demonstrar aptidão guiando carros no colo do pai, como aconteceu comigo, tudo bem. Mas não incentivaria. Mostraria outros caminhos e o apoiaria naquilo que ele sentisse amor. A identificação com carros, com corridas, teria que nascer nele. Eu não despertaria.
PLAYBOY: Onde está aquele carrinho?
SENNA: Virou sucata em algum ferro velho. Brinquei com ele alguns anos, até meu pai me comprar um kart verdadeiro. O antigo ficou para meu irmão mais novo, o Leo. Um dia, ele estava brincando na metalúrgica do meu pai. Dirigia rápido, mas era distraído. Começamos a chamar, o Leo olhou para trás e continuou acelerando. Escorregou na pista, bateu num muro e por pouco não parou embaixo de um caminhão. Meu pai ficou tão desgostoso que jogou o brinquedo fora.
PLAYBOY: Você lembra de sua primeira corrida?
SENNA: Da primeira, da segunda, da primeira vitória… Lembro de tudo. Competi pela primeira vez aos 8 anos, num balneário em São Paulo. Meu pai não queria, porque só tinha marmanjo de 18 anos. Mas entrei e curti adoidado. Me deram uma colher de chá, e fui o primeiro a sortear posição, num capacete cheio de papeizinhos. Peguei o número 1 — minha primeira pole! Eu era tão pequeno, tão leve, que meu carro andava mais que todos, e fiquei na ponta um montão de voltas. Os grandes se pegavam nas curvas, mas nas retas eu mandava ver, sumia. Faltavam três voltas quando um deles deu uma pancada atrás do kart. Capotei e fiquei fora. Mas quase venci.
PLAYBOY: Quem eram seus ídolos naquela epóca?
SENNA: O fackie Stewart, o Gilles Villeneuve, o Niki Lauda e, sem dúvida, o Émerson Fittipaldi. Ele era o maior.
PLAYBOY: Parece que você não acelerava muito na escola, não é? Ficava em recuperação, passava por conselho de classe…
SENNA: No ginásio até que ia bem, sentava nas primeiras carteiras da classe. Perdi o pique no colegial. Já construía meus castelinhos, sonhava em me dedicar de corpo e alma ao automobilismo. Comecei a sentar no meio, no fundão, a colar nas provas. Certa vez, um amigo chegou a fazer exame por mim. Valeu pelo menos, passei de ano! Mas foi o cúmulo. Depois, por inércia, entrei na faculdade de Administração de Empresas da FAAP, em São Paulo. Minha cabeça, porém, estava em outra: cursei um mês, tranquei matrícula e pouco depois fui para a Europa. Aí começou tudo.
PLAYBOY: E como foi sentar em um carro de F-1 pela primeira vez?
SENNA: Uma experiência incrível. Foi em julho de 1983, em Donnington Park, um dia depois do GP da Inglaterra [Senna, que corria na Europa desde 1981, em categorias inferiores, estreou profissionalmente na Fórmula 1 em 1984, quando assinou contraio com a Toleman]. O Frank Williams, dono da Williams, me convidou para andar no carro. Parecia um sonho ver de perto aquela tremenda máquina, altamente sofisticada, campeã do mundo, um privilégio permitido a apenas dois pilotos. Era gostoso saber que eu ia fazer o motor funcionar, colocar a marcha e sair pelo boxe. Aquele dia não era da Williams, não era de ninguém. Era só meu. Liguei o carro, e bati o recorde da pista. É uma grande recordação. Lembro que cheguei perto da máquina, fiquei olhando, fiz carinho, dei uns tapinhas e falei para ela: “É hoje! É hoje!”
PLAYBOY: Você conversou com o carro?
SENNA: É… pode crer!
PLAYBOY: Esse diálogo é constante?
SENNA: Não, só aconteceu naquele dia. Meu papo é com outra pessoa — é com Ele, lá em cima. E isto vem se acentuando nos últimos dois anos. Tenho tido experiências fantásticas. Uma nova vida se abriu diante de mim.
PLAYBOY: Esse seu, digamos, diálogo com Deus começou em 1988, em Mônaco, quando você liderava a prova com quase 1 minuto de vantagem sobre o Alain Prost e bateu o carro sozinho no guard-rail?
SENNA: Exatamente. Aquilo não era apenas um erro de pilotagem. Era a consequência de uma luta interna que me paralisava e tornava vulnerável. Eu tinha uma abertura para Deus e outra para o diabo. O acidente foi um sinal de que Deus estava ali me esperando, para me dar a mão. Bastava eu dizer que queria. Foi uma experiência incrível. Ouvir falar de Deus é uma coisa. Mas eu experimentei, diante dos meus olhos, dos meus sentidos — o que é bem diferente. Não existe equívoco, não existe dúvida, não existe mal entendido. É uma verdade.
PLAYBOY: Que outras experiências você teve?
SENNA: Se conversar sobre minha vida amorosa é algo extraordinário, falar sobre Deus é ainda mais fora do comum. É muito, muito especial. É meu mundo. Aos olhos das pessoas comuns, que não têm fé, tudo é loucura, bobagem. Por isso, fica uma situação incômoda para mim. Ao mesmo tempo, por que não dividir experiências com as pessoas que, como aconteceu comigo, procuram a vida nova?
PLAYBOY: E como são os sinais que você recebe?
SENNA: Depois do acidente de 1988, Ele começou a falar comigo através da Bíblia. Eu pegava o livro orando, expondo meus sentimentos, pedindo luz. E abria exatamente onde estavam as respostas de coragem, determinação e força.
PLAYBOY: Já lhe aconteceu algo mais concreto?
SENNA: Vou contar uma experiência recente. No Grande Prêmio de Mônaco deste ano, em maio, percebi nos treinos de sábado que meu carro estava desequilibrado, sem possibilidade real de vitórias na corrida de domingo. A McLaren do Gerhard Berger, meu companheiro de equipe, apresentava os mesmos problemas. Bem, vencer em Montecarlo era muito importante, e expliquei isso a Deus. Ele sabe de tudo o que se passa em nosso coração. Mas é necessário se entregar através da oração. Foi o que eu fiz. Quando chegou o domingo, ainda no warm-up [o aquecimento que os pilotos fazem nos carros pela manhã], tive uma sensação e uma visão. Consegui me enxergar de fora do carro. Em volta da máquina e do meu corpo, existia uma linha branca, uma espécie de onda, que se traduziu para mim como força e proteção.
PLAYBOY: Você conseguiu se ver?
SENNA: Hã-hã.
PLAYBOY: Saiu do seu corpo?
SENNA: Hã-hã. Entrei em outra dimensão. Tive uma paz incrível, e a certeza de que estava equilibrado, de corpo e alma, inteiro. Não tinha canto sobrando, estava tudo redondo, em harmonia. Geralmente, antes de largar, fico na minha, quietão. Dessa vez, até sorri. Saí do boxe, com aquele mesmo carro que um dia antes apresentou problemas, e os defeitos… pã! Desapareceram! Estavam lá, mas não me incomodavam. Depois da corrida, o Berger veio conversar comigo, e disse que o carro dele continuou trepidando. Eu apenas sorri, não entrei em detalhe. Só que, comigo, não aconteceu nada.
PLAYBOY: Você lê a Bíblia diariamente?
SENNA: Não. Mas, às vezes, mais do que uma vez por dia. É nela que aprendo pouco a pouco sobre o Deus poderoso, que criou o céu, a Terra, o universo.
PLAYBOY: E à igreja, você vai?
SENNA: Gosto quando ela está vazia, tranquila, em paz. Sou católico, mas não curto missa. Não tem nada de especial nem de gostoso nesse culto.
PLAYBOY: Principalmente se alguém o reconhece e vem rogar um autógrafo, não é?
SENNA: Não é isso. Acontece que o ritual não tem nada a ver, é muito superficial. Não é o meu culto, com certeza.
PLAYBOY: Quando venceu o GP do Japão. em 1988 e conquistou o primeiro título mundial, você declarou que chegou a ver Deus nas duas últimas curvas da prova. Como foi isso?
SENNA: Eu estava agradecendo a Ele pela vitória. Deus me deu um campeonato de luta, conquistado na penúltima prova do ano, como todo piloto sonha. Era um presente enorme. Mesmo orando, eu estava superconcentrado, me preparando para uma curva longa, de 180 graus, quando vi a imagem de Jesus. Ele era tão grande, tão grande… Não estava no chão. Estava suspenso, com a roupa de sempre, a cor de sempre, e uma luz em volta. Seu corpo inteirinho subia para o céu, alto, alto, alto, ocupando todo o espaço. Ao mesmo tempo em que tinha essa imagem incrível, eu guiava um carro de corrida. Guiava com precisão, com força, com… [comovido] com tudo… É de enlouquecer, não é? É de enlouquecer!
PLAYBOY: Você não enxergava mais nada?
SENNA: Exato. Não dá para descrever. Eu falava com Deus, e Ele pintou. Simplesmente se mostrou diante de mim.
PLAYBOY: Em que mais você pensava nesta hora?
SENNA: Cruzei a linha de chegada urrando dentro do capacete. Batia na cabeça, não acreditava, comecei a chorar. Dezenas de pessoas da equipe falavam comigo pelo rádio, e eu agradeci especialmente ao Steve Nichols, meu engenheiro. Gritei muita coisa que não posso revelar.
PLAYBOY: Palavrões?
SENNA: [Rindo.] É. Entre outras coisas. Foi uma explosão de sentimentos. Aqueles segundos consagravam uma vida inteira de trabalho, desejo, sonho e vitória. Foi uma conquista real, um campeonato indiscutível, de vitórias tremendas, e não um campeonato ganho por pontinhos.
PLAYBOY: Por vitórias ou por pontinhos, não dá na mesma?
SENNA: Todos os anos tem um campeão, em todos os esportes. Mas nem sempre é o campeão de verdade, respeitado. admirado, indiscutível. Pelo contrário. muitas vezes é um vencedor sem vitória. sem mérito, sem conquista. Veja: num ano em que uma equipe como a McLaren domina totalmente o campeonato, existem dois pilotos com possibilidades de vencer. Entre aquele que tem vitórias e é o melhor, e o que vence pela desgraça dos outros, porque os adversários quebram o carro, coisas assim, o primeiro tem muito mais valor. E eu conquistei o título assim. Da maneira que julgo verdadeira.
PLAYBOY: Você está querendo dizer que o Alain Prost, que venceu o campeonato no ano seguinte, por pontos, foi um campeão…
SENNA: [Interrompendo.] … Sem valor, sem crédito. Tudo foi tão desacreditado por ele — a qualidade de nossos carros, o fornecimento do motor — que ele nem comemorou o título. Eu saí do Japão em 1988 como vencedor. Como campeão de fato. O Prost saiu do Japão um ano depois como perdedor. Não ganhou na pista, não conquistou o título através de uma vitória. Na última corrida do ano, na Austrália, que definiu o campeonato, ele estava fora do carro, no boxe, parado, se recusando a correr por causa da chuva. Levou o título por uma questão matemática. Se eu vencesse nessa última prova, será que ele se consideraria, no íntimo, um campeão? O Prost sabia que eu tinha conquistado nove pontos no Japão, uma prova antes, mas que me desclassificaram, me tiraram esses pontos. Com eles, eu seria o campeão. Qual é, então, o valor do título dele?
PLAYBOY: Nesta prova do Japão, você foi desclassificado por causa de uma manobra irregular para voltar às pistas, depois que seu carro se chocou com o de Prost. Ron Dennis, o dono da McLaren, defendeu você. Ele disse que Prost jogou o carro sobre o seu. Foi isso mesmo?
SENNA: O Prost virou o carro antes de entrar na curva, isso a gente vê pelos vídeos de televisão. Ele percebeu que eu estava ali e fez de propósito.
PLAYBOY: É verdade que depois da prova Prost foi procurá-lo e você quase bateu nele?
SENNA: Cheguei perto. Depois do que ele fez, vem se dizer triste pelo episódio? É algo fora da realidade. Eu disse para ele se afastar e cuidar da própria vida. Era o mínimo que eu poderia fazer.
PLAYBOY: Depois de desclassificado da prova, você acusou os cartolas de manipularem o campeonato em favor de Prost e acabou ameaçado pelo presidente da Fisa [Federação Internacional de Esportes Automobilísticos], Jean-Marie Balestre, de ser excluído das provas deste ano. A briga se arrastou por três meses. Em todo este tempo, você sempre achou que estava certo?
SENNA: Cem por cento.
PLAYBOY: E por que se retratou, como Balestre exigia?
SENNA: Mais uma vez, foram circunstâncias de uma situação em que a verdade foi colocada de uma maneira… [longo silêncio] que ainda hoje eu não posso responder.
PLAYBOY: Quando disse que o campeonato foi manipulado, você expressou uma certeza que pelo menos os seus torcedores também tinham?
SENNA: Hã-hã.
PLAYBOY: E, na última hora, mudou de opinião?
SENNA: Não, eu não mudei. Essa é que é a verdade. Eu não mudei. [Emocionado.] Mas, realmente, não posso falar sobre isso hoje. Teria sérias implicações.
PLAYBOY: Sua vontade de continuar nas pistas está acima de tudo?
SENNA: Em certos momentos, sim. Neste episódio, não. Quis deixar as corridas, cheguei a tomar esta atitude. Abri mão da minha profissão, totalmente. Mas as coisas se modificaram rapidamente e tomaram outro rumo.
PLAYBOY: O que aconteceu?
SENNA: Não entrarei em detalhes.
PLAYBOY: Mas como você se sentiu tendo que se retratar?
SENNA: Isso que você está dizendo não faz parte da realidade. E, no entanto, eu não posso falar hoje.
PLAYBOY: Você teve o apoio de algum no piloto?
SENNA: Não o suficiente para que colocássemos algo em prática com grande efeito. Existiram contatos e declarações do Maurício Gugelmin, do Michele Alboreto, do Thierry Boutsen.
PLAYBOY: Qual desses apoios …
SENNA: [Taxativo.] Este é um assunto sobre o qual não posso falar mais. Infelizmente.
PLAYBOY: OK. Podemos esclarecer então como as coisas entre você e o Prost chegaram aonde chegaram?
SENNA: Os problemas surgiram em meados de 1988, quando comecei a alcançá-lo no campeonato, ameaçando sua posição dentro da equipe. A pressão aumentou e ele começou a espernear. Tentou desestabilizar o bom ambiente de trabalho, pois só assim poderia eventualmente me vencer. Em condições de igualdade, não tinha mesmo como.
PLAYBOY: Seus adversários diziam que ele acertava o carro, e que você vinha na cola, aprendendo. Era assim?
SENNA: Eu tinha que aprender com ele, que é experiente e conhecia a McLaren há muitos anos. Só junto dos que sabem posso evoluir e superá-los. Foi minha estratégia. Deu certo.
PLAYBOY: Vocês passaram a temporada de 1988 tentando manter as aparências. Em abril de 1989, em Ímola, a bomba explodiu. Ele o acusou de ser traidor e não cumprir acordos de cavalheiros dentro das pistas. O que houve de verdade?
SENNA: Como nossos carros eram superiores aos outros, combinamos de poupar a máquina na largada, não ultrapassando na primeira freada da primeira curva. Veio a largada, ele ficou em primeiro. Só que peguei seu vácuo, ganhei velocidade e consegui ultrapassá-lo antes da curva. E fui embora. Ele começou a apertar de tal forma o ritmo que rodou, foi para o outro lado da pista, fez o diabo. Depois da corrida, estava muito ‘pê da vida’. Jogou a culpa da derrota em mim, dizendo que traí o acordo. E começou a maior encrenca.
PLAYBOY: Como foi isso?
SENNA: Ímola foi a gota d’água de uma situação que vinha desde 1988, quando ele perdeu o campeonato para mim. Prost ficou numa pior. Tanto é que tínhamos um treino na Inglaterra e ele ficou na França, ameaçando parar de correr. Isso seria terrível para a McLaren, que não teria como substituí-lo naquele momento. O Ron Dennis, desesperado, me pressionou para uma solução. Nós dois combinamos que eu daria ao Prost uma válvula de escape, para ele se recuperar. Sentamos depois os três e eu assumi a culpa. Abri uma via de fuga para ele emergir um pouco.
PLAYBOY: A versão do Prost é diferente. Ele diz que você traiu o acordo e, pressionado pelo Ron Dennis, confessou e até chorou.
SENNA: É verdade. Chorei. O estado dele me impressionou. O Prost estava desestruturado, não tinha condições de continuar correndo. Simplesmente não existia mais.
PLAYBOY: Você quer dizer que chorou de pena?
SENNA: Exatamente. Mas ele nunca foi capaz de entender. Na semana seguinte, em Mônaco, soltou outra versão para a imprensa francesa. Não respondi. Segurei firmão e aguentei mais uma vez. Quis provar na pista que era maior do que ele. Por coincidência, tive uma sorte incrível: geralmente estou sozinho, mas naquela corrida a Xuxa estava no meu apartamento, em Montecarlo. Eu fazia o trabalho na pista e voltava correndo para junto dela. Não dava espaço para comentário sobre a briga. Mas, para mim, ele já não existia.
PLAYBOY: E o Ron Dennis, nessa história toda?
SENNA: Na prova seguinte, no México, o Prost foi reclamar com o Ron que eu não falava mais com ele. “Depois do que você fez, quer que o Ayrton continue seu amigo?” Foi a resposta que ouviu. A carreira dele estava encerrada na McLaren. O Ron não queria mais o Prost na equipe. Não tinha como falar, mas o francês percebeu e foi para a Ferrari.
PLAYBOY: Antes de ser campeão, você não dizia que ele era o melhor piloto do mundo?
SENNA: Sem dúvida. De todos os corredores que estão na F-1, Prost é um dos mais completos.
PLAYBOY: E o professor, como os franceses o chamam?
SENNA: Não. É um grande piloto.
PLAYBOY: Depois de vencê-lo, você não se considera melhor do que ele?
SENNA: Palavras não se aplicam. Das cinco primeiras corridas deste ano, liderei todas, venci três e consegui quatro pole positions. Os resultados falam. É lógico que tenho minha opinião, e ela é clara. Mas não devo revelar.
PLAYBOY: Ron Dennis garante que você é o melhor.
SENNA: Ele já trabalhou com muitos campeões, e tem a visão não só do resultado final mas de como se chegou àquele resultado. Vindo do Ron, é um complemento realmente muito especial.
PLAYBOY: Você então é “obrigado” a concordar quando ele diz: Senna é o melhor?
SENNA: [Sorrindo.] Não posso discordar.
PLAYBOY: Antes da briga, o Prost disse que, se fosse dono de uma escuderia, iria contratá-lo como piloto. Piquet já fez declaração idêntica. E você, quem colocaria em sua equipe?
SENNA: Esta hipótese não existe.
PLAYBOY: E só uma maneira de falar quem são, na sua opinião, os melhores pilotos.
SENNA: Não vão ter isso de mim. Se o Mansell é o melhor, ou o Berger, ou o Piquet, ou o Prost… São todos grandes pilotos.
PLAYBOY: Você não dá o braço a torcer, hein? Ayrton Senna é mesmo a pessoa difícil que parece?
SENNA: Tenho personalidade forte e ideias muito claras. Talvez por isso encontre tantas dificuldades e faça alguns inimigos na F-1. Além disso, incomodo muita gente.
PLAYBOY: As pessoas sentem inveja?
SENNA: Este sentimento faz parte.
PLAYBOY: Piquet também pensa assim. Ele declarou a PLAYBOY que você o invejava.
SENNA: É a opinião dele.
PLAYBOY: Na ocasião, fez também uma acusação: lendo seu contrato na Lotus, ele descobriu que você recebia metade do valor que declarava à imprensa.
SENNA: [Irônico.] Talvez seja uma declaração infeliz, um engano. Ele aceitou o contrato que deixei. Aliás, entrou ganhando menos do que eu ganharia se continuasse na equipe.
PLAYBOY: Quando a Lotus anunciou a contratação de Piquet no final de 1987, você ainda não acertara com a McLaren. Para todos os efeitos, não teria sido uma demissão? Como você se sentiu integrando o time dos “descamisados”?
SENNA: Eu decidi sair, essa é a verdade. Tinha propostas da Ferrari e da McLaren, e falei para o Peter Warr, chefe da Lotus, que não continuaria na equipe. Ele tentou me segurar de todas as maneiras possíveis, inclusive financeiras. Até o dia em que deixei claro que a decisão não tinha volta. Saíram então desesperados atrás de outro piloto. No sufoco, arrumaram o Piquet, e tentaram passar ao mundo que tinham me tirado. Quem não sabe, pensa que saí correndo atrás da McLaren, mas na verdade minhas conversas com os ingleses já estavam bem adiantadas. Só não assinamos o contrato antes porque a negociação era complexa.
PLAYBOY: De qualquer forma, a Lotus não pegou você de surpresa ao contratar Piquet?
SENNA: O que me pegou de surpre-sa foi apenas eles tornarem o fato público sem me comunicarem oficialmente antes.
PLAYBOY: Mas você nem sequer sabia que negociavam com outro piloto…
SENNA: Eu sabia! Tinha contatos na Reynolds, patrocinadora da Lotus, e na Honda, que fornecia o motor. Me chegavam informações de todos os lados, confidenciais, importantíssimas, a respeito de tudo. Eles estavam em uma sala de Londres, no escritório da Reynolds, negociando “secretamente” com o Piquet — e eu sabia de tudo. Soube cada passo do acordo e até o minuto exato em que assinaram o contrato.
PLAYBOY: Como?
SENNA: Estava dentro do meu carro de passeio, uma Mercedes com telefone, e recebia vários chamados da Reynolds. Eles estavam reunidos com Piquet e com a Lotus, mas ainda indecisos de fechar negócio. Dependiam da minha posição. Na última hora, um executivo saiu da sala, me telefonou, e eu confirmei que estava mesmo fora da equipe. Só depois disso, finalmente assinaram o contrato com ele. Piquet deu risada, mas eu já estava me divertindo bem antes. Quem gosta de mim ficou ‘pê da vida’, achando que me passaram a perna. Mas a verdade sempre vem à tona — como veio agora.
PLAYBOY: Por essas e outras, você vive repetindo que “o circo da F-1 é nojento”. Você se refere à briga entre os pilotos, aos cartolas, ou aos interesses econômicos das escuderias e dos patrocinadores?
SENNA: Talvez tenha sido um pouco agressivo e me expressado mal. A F-1 é um grande espetáculo. Mas, como toda atividade de grande penetração, tem problemas que tiram muito do sabor do esporte.
PLAYBOY: Você estaria falando da Marlene Mattos, empresária da Xuxa?
SENNA: Não vou citar nomes. Mas, quando a coisa começou a escapar para a imprensa, me incomodou. Eu sabia que aquilo só daria mais lenha para quem dizia que tudo era promoção. Não era, eu garanto. Foi uma fase muito especial da minha vida.
PLAYBOY: Você se dava bem com a Marlene?
SENNA: É uma personalidade… complicada.
PLAYBOY: É verdade que você pediu a Xuxa em namoro para ela?
SENNA: [Rindo.] Entrei em contato com a Xuxa através da Marlene, a quem pedi o telefone dela. Mas nunca a pedi em namoro para ninguém.
PLAYBOY: Quando vocês desmancharam?
SENNA: Em março. Por coincidência, assisti outro dia a uma entrevista dela no Fantástico, falando da vida íntima, falando de mim.
PLAYBOY: Naquela ocasião, Xuxa disse que não tinha muito tempo para o namoro, e que você não entendia, pegava no pé…
SENNA: Sem dúvida, eu tinha mais tempo. Mesmo assim, ficávamos juntos duas semanas, e separados quatro. O grande problema é que a Xuxa delira pela profissão, e simplesmente se fecha no seu mundo. Acho que fui um dos únicos que conseguiram entrar nele. Conheci coisas muito, muito particulares cio interior da Xuxa. Como ela, eu também sou especial. Apesar disso, era difícil. A Xuxa não dá condições para o relacionamento. Não tem tempo de pensar para valer em uma família, em ter seu baixinho, sua baixinha. Essas coisas não caem do céu. Ela sonha, mas não trabalha para mudar sua vida.
PLAYBOY: Você queria algo mais firme?
SENNA: Tanto é que investi para isso.
PLAYBOY: Não foi correspondido?
SENNA: Não. E eu já tive diversos relacionamentos para saber o que desejo. Não quero o aqui e o agora. Busco o futuro. Da maneira como estava indo, a Xuxa seria apenas mais uma. Eu não queria isso, de forma alguma. Resolvi que não era por aí.
PLAYBOY: Quem tomou a iniciativa de terminar o namoro?
SENNA: Tanta gente está se mordendo para saber, não? Com certeza, não vai sair da minha boca. Pode sair de pessoas próximas a ela, que sabem de tudo.
PLAYBOY: Mas, afinal, a Marlene Mattos atrapalhou o namoro?
SENNA: Ela não ajudou nem um pouco.
PLAYBOY: Você já amou profundamente uma mulher?
SENNA: [Depois de refletir.] Me conhecendo como eu me conheço, tendo passado por várias separações dolorosas nos últimos doze anos [longo silêncio], posso dizer que uma única vez, em toda a minha vida, senti lá dentro o desejo de ter uma nova família. Uma única vez, em toda a minha vida, sonhei em ter uma criança. Foi… com ela. Com a Xuxa.
PLAYBOY: Você já foi casado, mas não gosta de falar sobre o assunto. Por quê?
SENNA: Tem coisas que pertencem só a gente, e não se comenta toda hora. Mas talvez seja o momento de conversar sobre isso. Casei em fevereiro de 1981, com uma amiga de infância [Lílian Vasconcelos Sousa]. Eu estava começando a correr na Europa, e nos mudamos para lá. Ela cozinhava muito bem, por sinal. Uma série de coisas aconteceram, e voltei ao Brasil, oito meses depois, para trabalhar nos negócios do meu pai e deixar as pistas. Não deu certo e, em março de 1982, decidi mudar de novo a minha vida, voltar para a Europa, para as pistas, e me separar.
PLAYBOY: A Lílian não cabia nos seus planos?
SENNA: O casamento foi um erro. Éramos muito jovens. Não dava para insistir em um equívoco que se transformaria em um problema ainda maior caso viessem crianças, por exemplo. Não me arrependo, principalmente porque tudo aconteceu sem mágoas. Não temos contato, mas sei que ela formou uma nova família e é feliz.
PLAYBOY: Vocês não chegaram a se amar?
SENNA: Não vou entrar nesse detalhe. Mas não me arrependo de nada.
PLAYBOY: Durante um tempo, correu o boato de que seu casamento teria sido anulado. Havia fundamento nisso? [No Brasil, um casamento só pode ser anulado, na maioria dos casos, quando é comprovado o chamado erro essencial em relação ao cônjuge.]
SENNA: Nunca abro minha vida amorosa e não apareço em público com mulheres. Como foi impossível me destruir nas pistas, usaram o meu jeito de agir para inventar essas histórias, questionando o quanto homem eu sou, o quanto deixo de ser. É outra experiência muito triste na minha vida. A moral de uma pessoa é intocável. Esta conversa de anulação foi outra invenção absurda. Não existiu absolutamente nada. Foi um processo normal, com desquite e divórcio. Jamais coloquei um fim nisso porque não tinha nada a temer ou a provar. Mas não há mentira que resista ao tempo. Entra mês, sai mês, fatos normais da minha vida vão pouco a pouco derrubando esse assunto desagradável.
PLAYBOY: Uma associação de pilotos atuante não poderia ao menos equilibrar esses interesses? No caso de sua briga com Balestre, por exemplo, ela não teria um papel importante?
SENNA: A união entre os pilotos funcionou em alguns períodos, mas hoje é completamente inviável. Os interesses colidem. Existe alguns que, pela posição que ocupam, têm muita força — mas estão do outro lado da cerca. Há os que, em equipes menores ou posições secundárias, têm pouco poder de fogo. Nem perco meu tempo pensando em um movimento desses.
PLAYBOY: Quando usou a palavra “nojento”, você certamente não estava se referindo às belíssimas mulheres que circulam nos bastidores do circo. É difícil não cair em tentação?
SENNA: É difícil, lógico. já resisti a esse assédio, já deixei de resistir, já me aconteceu de tudo.
PLAYBOY: Seu treinador físico no Brasil, Nuno Cobra, garante que você é um campeão não apenas com a McLaren, mas também com outras “máquinas”…
SENNA: [Tímido, toma um copo de suco antes de responder.] Não me lembro de reclamações. Sou muito carinhoso.
PLAYBOY: Você já falhou?
SENNA: Já — uma única vez, em 1982. Eu era meio garoto, estava começando no automobilismo, na Inglaterra. Ela era superatraente. E aconteceu, né? Não é que falhei, mas fui obrigado a me empenhar para manter a… performance.
PLAYBOY: Teve que acionar o turbo?
SENNA: [Risos.] Na época não existia turbo. Tampouco meu condicionamento era bom, como diz o Nuno Cobra. Mas foi ótimo que tenha acontecido isso. Até os 20 anos, mantive relacionamento com mulheres apenas pela atração física. Nesta ocasião, tive um sinal de que já não funcionava da mesma maneira. Começava a tomar conta de mim o lado astral, de dar importância à personalidade e a certos detalhes especiais. Foi um marco, o início de uma grande mudança.
PLAYBOY: E a primeira vez, como foi?
SENNA: Primeira vez? Bem, eu tinha 13 anos. Lembro que saí com um primo mais velho, de 20, e fomos a uma boate no centro de São Paulo. Eu era um catatauzinho naquela idade, e não consegui entrar. Fiquei na porta, dentro do carro, olhando as pessoas que entravam no lugar. De repente, vi chegar uma mulher enorme, enorme mesmo. Dali a pouco sai meu primo da boate com aquele mulherão. E foi minha primeira vez.
PLAYBOY: Era loura ou morena?
SENNA: [Rindo muito.] Não vem ao caso.
PLAYBOY: Por quê?
SENNA: Porque não.
PLAYBOY: Por que tanto mistério?
SENNA: Era loura. Foi um barato. Mais tarde percebi que não tinha nada a ver, mas na época foi bom. Aos 13 anos, é difícil para o homem encontrar uma namoradinha para transar. Mesmo as meninas de 15 anos, que têm uma cabeça aberta e já curtem, procuram garotos de 18 anos. Não tive a menor chance.
PLAYBOY: Só uma dúvida: a primeira vez foi no carro?
SENNA: [Risos.] Não. Foi no apartamento dela. Tudo muito bem realizado.
PLAYBOY: Quanto tempo, nessa vida agitada, de piloto, você já ficou sem transar?
SENNA: Perdi a conta, para dizer a verdade… Puxa, é uma coisa tão pessoal! [Silêncio.] Acho que foi quando me separei. Fiquei seis meses sem encostar a mão em uma mulher.
PLAYBOY: Por quê?
SENNA: Não estava a fim. É uma situação difícil, mas as coisas se passaram dessa maneira. Pintavam oportunidades, mas não estava preparado, não tinha cabeça para isso. Não encontrava alguém interessante, que me motivasse. Eu tenho um padrão muito elevado.
PLAYBOY: Você leva cantada de fãs?
SENNA: Levo. Uma vez, na Itália, uma maluca bateu na porta do meu quarto no hotel. Eu abri e ela foi me empurrando para dentro.
PLAYBOY: E aí?
SENNA: Empurrei de volta para fora. [Risos.] Foi engraçado.
PLAYBOY: Você nunca retribuiu?
SENNA: Já aconteceu. Em 1988, depois do GP do Canadá, uma inglesa me pediu um beijo, usando inclusive um termo — hug — que eu não conhecia. E perguntou: “Can you have a hug?” [Posso ter um abraço?] Me assustei, e a Lisa, mulher do Ron Dennis, que é americana, me explicou o significado. Imediatamente respondi: “Why not?”
PLAYBOY: Sexo antes das corridas atrapalha?
SENNA: Pelo contrário. Me sinto bem. Dá um grande equilíbrio na hora de encarar a prova.
PLAYBOY: Você já sentiu dor de barriga no meio de uma corrida?
SENNA: Só antes da largada — várias vezes, por sinal. Durante uma prova, já me aconteceu coisa pior. Tive espasmo muscular por todo o corpo, a ponto de não poder respirar de tanta dor. Foi na minha segunda corrida de F-1, 1984. Não estava preparado fisicamente para correr durante 2 horas, naquele calor, perdendo líquido. Fui até o final pela ânsia de chegar e marcar o primeiro ponto.
PLAYBOY: Quantos quilos você emagrece em cada prova?
SENNA: Dois quilos, em média. Se faz calor, três. Mas é algo que se repõe rapidamente, bebendo água.
PLAYBOY: Como é seu preparo, antes e depois das corridas?
SENNA: Desde 1984, sigo um programa de condicionamento físico. De dezembro a março, quando não há provas, fico no Brasil e corro cinco dias por semana, de 8 a 10 km, no centro esportivo da USP. Depois viajo e procuro manter o ritmo. Na McLaren tem também uma pessoa que me acompanha, faz massagem, cuida da alimentação na época dos treinos. Como muita verdura, carboidratos, peixe, frango e massa e evito carne vermelha. No café da manhã, costumo comer cereais, fibras e frutas. Na época da corrida, de quinta a domingo, a alimentação é muito mais controlada.
PLAYBOY: O que mais muda no seu dia a dia?
SENNA: Tudo. Tenho horário para tomar café, chegar à pista, entrar no carro, sair, almoçar, voltar para o carro. Cada passo é cronometrado, segundo a segundo, e o trabalho é duro, non stop. Na noite anterior à corrida, procuro dormir cedo, pois levanto entre 7 e 8 da manhã. Essas regras variam de país para país, mas a rotina é quase sempre a mesma. O objetivo é chegar na hora da corrida com o maior equilíbrio possível.
PLAYBOY: E como fica seu coração na hora da prova?
SENNA: Pior que o de muito torcedor! Minha frequência cardíaca, em dias normais, é de 60 batimentos por minuto. Na largada, eles chegam a 150. Nos picos da corrida, a 190.
PLAYBOY: Tudo isso é medo?
SENNA: E tensão, preocupação em não errar na troca de marchas ou na ultrapassagem. O medo vem antes da corrida, quando estou só, comigo mesmo. O risco de acidentes é uma constante em minha vida. Tenho muito receio, não só de morrer como de me machucar. O que é bom, pois é um sentimento de preservação da vida, que não me deixa passar de certos limites.
PLAYBOY: Qual foi o pior acidente em que você já se envolveu?
SENNA: Graças a Deus, até hoje só quebrei um dedo, numa batidazinha boba de kart em Interlagos, em 1974.Dez anos depois, tive uma batida mais feia no circuito de Hockenheim, na Alemanha, uma pista superveloz. O aerofólio da minha Toleman quebrou e dei seis voltas de 360 graus, a 280 quilômetros por hora. Não deu tempo nem de fechar o olho. A única coisa em que consegui pensar foi na frente do carro. Me firmei no cockpit e rodei para bater de traseira. É a melhor posição para se tomar uma pancada. De frente, pode ser fatal, e de lado também é perigoso. Este foi meu acidente mais grave. Mas já passei por uma situação de risco muito maior.
PLAYBOY: Como foi?
SENNA: Na tomada de tempo para a corrida de Mônaco de 1988. Eu já tinha conseguido a pole, mas continuei na pista. A cada nova volta, aumentava a diferença para os outros pilotos, até que cheguei a ficar 2 segundos na frente — o que é uma eternidade numa corrida. Eu estava me superando a cada volta, e simplesmente entrei em outra dimensão. Por causa da velocidade, as referências de espaço e de tempo se modificaram. Não via a pista, ela tinha virado um túnel. A distinção entre o homem e a máquina deixou de existir: me fundi com o carro, viramos a mesma coisa. Depois de cinco voltas, tive um estalo, uma agulhada, e acordei para a situação de extremo perigo em que estava. Meu corpo começou a tremer, e fui para os boxes.
PLAYBOY: Levou um tremendo susto?
SENNA: Lógico. Fiquei morrendo de medo. Eu conseguia controlar o carro, mas estava entrando no inconsciente. E por aí não conheço, não sei o que pode acontecer.
PLAYBOY: Muitas pessoas acham que, para passar a vida dando voltas numa pista e se arriscando, só sendo meio pirado. O que você pensa disso?
SENNA: Quem não tem equilíbrio não sobrevive nesse esporte.
PLAYBOY: Você faz terapia?
SENNA: Já fiz duas vezes — uma há dois anos, e a outra no final de 1988. Me conheci melhor, foi muito bom. Se tivesse tempo, voltaria às consultas, sem dúvida.
PLAYBOY: Sua vida fora das pistas também é uma corrida contra o relógio?
SENNA: Em termos. Poderia ter dezenas de atividades, inclusive promocionais, que me trariam muito dinheiro. Mas recuso, porque as corridas consomem quase toda a energia. Na Europa, procuro descansar o máximo possível. Deito cedo, durmo até meio dia e quase não saio de meu apartamento em Montecarlo. Nem para almoçar ou jantar. A Isabel, uma portuguesa que trabalha comigo, cozinha muito bem. No final da tarde, faço cooper. Mas procuro ficar o menor tempo possível na Europa. Se tenho uma semana livre, volto ao Brasil.
PLAYBOY: E aqui, o que você faz?
SENNA: Fico o mais longe possível de meu escritório, senão eles me arrumam trabalho [risos]. Gosto de ficar em casa, com meus três sobrinhos. Viajo também para minha fazenda, em Tatuí, no interior de São Paulo. Lá tem dois lagos enormes, onde brinco de jet-ski, esqui aquático, barco de radiocontrole. Tem também uma pista de kart, onde aposto corrida com Bruno, meu sobrinho de 5 anos. Ando de moto, bicicleta, faço cooper. Enfim, curto tudo o que amo, e que fica longe de mim tanto tempo.
PLAYBOY: Você lê muito?
SENNA: Bem pouco. Não tenho paciência. É um grande defeito.
PLAYBOY: Nem o que publicam a seu respeito?
SENNA: Muito pouco.
PLAYBOY: E cinema?
SENNA: Gosto de filmes que não sejam parados.
PLAYBOY: De música você gosta bastante, não é?
SENNA: Adoro. Viajo sozinho a maior parte do tempo, então levo meu walkman, com duas caixinhas de som. Chego ao hotel e ligo a TV, mas a programação do exterior não tem nada a ver com minha cabeça. Então, fico ouvindo som — qualquer tipo de música, que meu irmão grava para mim. Gosto muito de Gal, Gil… [coça a cabeça] Gilberto… Gilberto Gil, é isso mesmo? Também curto Simone, Elba Ramalho e Caetano.
PLAYBOY: Você vai a shows?
SENNA: Difícil. No exterior, mais por falta de companhia. No Brasil, prefiro ficar em casa.
PLAYBOY: Mas, em São Paulo, você dá suas escapadas noturnas, não?
SENNA: Vou a alguns restaurantes com amigos e já fui em boates. Frequentava o Gallery, mas isso há muito tempo.
PLAYBOY: Até já tomou alguns drinques a mais por lá, não é?
SENNA: [Risos.] Já peguei algum fogo. Mas não bebo muito. Se pinta vinho ou champanhe — Moêt et Chandon, por exemplo —, eu encaro. Depois do GP de Mônaco, recebi amigos no meu apartamento e tomei um cálice de vinho, coisa que não acontecia há muitos anos. Uísque e cerveja, por exemplo, nem pensar.
PLAYBOY: Já experimentou alguma droga?
SENNA: Lança-perfume é droga? Eu já cheirei. Na primeira vez, gostei: mas na segunda, não curti, e parei por aí. Não preciso disso. Mesmo cigarro normal, experimentei e não gostei.
PLAYBOY: E como você se sente sendo patrocinado pela Marlboro?
SENNA: A marca está ali no carro, mas não forço ninguém a fumar. A Philip Morris deu uma contribuição inestimável ao automobilismo. Foi ela que financiou a divulgação do esporte e deu a tanta gente a possibilidade de curtir uma corrida. Vejo por esse lado, e não pelo lado negativo que os outros enxergam, de que o cigarro é ruim, faz mal para a saúde.
PLAYBOY: Mas é ruim, ou não?
SENNA: É indiscutível que não traz muitos benefícios à saúde. Por outro lado, você vê gente que para de fumar e engorda.
PLAYBOY: Quem nunca consumiu cigarro não enfrenta esse problema. Então sua campanha seria: “Nem comece..?
SENNA: Eu admito que… nunca poderia participar de uma campanha desse tipo. Por razões óbvias.
PLAYBOY: já que estamos falando de patrocínio: quanto você tinha guardado no Banco Nacional quando o Plano Collor resolveu fechar as torneiras do país?
SENNA: O suficiente para sentir a paulada. Mas foi uma medida necessária. O presidente Collor é um grande líder, e há muito tempo o Brasil precisava de alguém assim. Acho que ele é muito bom.
PLAYBOY: Você votou nele?
SENNA: Votei, mas só no segundo turno. No primeiro, estava viajando.
PLAYBOY: Enquanto construía Interlagos, a prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, do PT, não tentou ganhar seu voto para o Lula?
SENNA: Não tem nada a ver. Fui procurado por quase todos os candidatos, que queriam apoio. Mas não sou político, não entendo e nem quero. Sou livre e optei por quem buscava o melhor para todos.
PLAYBOY: Os carros brasileiros são mesmo carroças, como disse Collor?
SENNA: Não. O único problema é que têm um custo alto se comparados ao carro europeu e, sobretudo, ao japonês. A restrição à importação de tecnologia dificultou a evolução do produto brasileiro. Com a maior abertura que se está anunciando, a qualidade deve melhorar.
PLAYBOY: Quais são os melhores carros de passeio do mundo?
SENNA: Eu importaria qualquer um da Mercedes, na Europa, e da Honda, no Japão — uma fábrica jovem no mercado, mas que tem um produto incrível. A Toyota e a GM também têm bons carros. Isso porque a competitividade nos países deles é grande. E isto que o presidente Collor pretende trazer para o Brasil.
PLAYBOY: O que você achou de o Arnon, filho dele, pedir a ajuda do primeiro-ministro francês para resolver o impasse de sua briga com o Balestre?
SENNA: Muita gente ficou brava com aquilo. Foi uma coisa pura do garoto, algo bem especial. Eu o conheci no GP do Brasil, mas nem pudemos conversar com aquela confusão tremenda. Dei um broche do meu capacete de presente para ele e para seu irmão também. Eles devem ter guardado.
PLAYBOY: Até o final do campeonato, os brasileiros esperam que você suba ao pódio muitas vezes. Se, em uma delas, Balestre confundí-lo com o Jean Alesi e vier lhe dar um beijo, como fez com o piloto francês em Mônaco, como você vai reagir?
SENNA: Não existe a menor possibilidade de ele se enganar [risos]. Algum dia vou poder falar sobre esse assunto com mais clareza.
Os números da carreira de Ayrton Senna
Equipes: Toleman, Lotus, McLaren, Williams
Títulos: 3 (1988, 1990, 1991)
Vice-campeonatos: 2 (1989, 1993)
Vitórias: 41
GPs: 161
Temporadas: 11 (de 1984 a 1994)
Poles positions: 65
Pódios: 80
Pontos: 614
Voltas mais rápidas: 19
Abandonos: 60
Voltas lideradas: 2931 voltas
Hat-trick (pole, vitória e volta mais rápida): 7
Grand chelem (pole, volta mais rápida e vitória de ponta a ponta): 4
Vitória de Piastri e evolução de Ferrari trazem alegria a categoria
Prof Fernando Alves Firmino, treinador de futebol./futsal, jornalista, professor e palestrante.
Fundador do ESPORTESNET
GP de Baku só confirmou o que vem se vendo nas últimas provas: temos um campeonato.
Ferrari evoluiu pouco, mas chegou na briga, porém quem realmente chegou foi a McLaren. Com dois pilotos talentosos e um novo conjunto de atualizações aerodinâmicas, a McLaren não só chegou, como assumiu a liderança do mundial de construtores.
A Red Bull vem demonstrando que não consegue atualizar o torpedo a ponto de voltar ao nível de vantagem que possuia antes. Mas Verstappen não tem chances então de ser campeão?
Claro que tem, Versttapen é um dos melhores pilotos do mundo e tem um bom carro, mas é inegável que a McLaren conseguir achar o equilíbrio entre bom carro, estratégia e bons pilotos que estava faltando. Alem de Piastris e Norrris, dois nomes precisam ser citados: Zack Brown e Andrea Stella. O chefão e o diretor da equipe organizaram a casa e com isso fizeram nascer a Força Papaia ou Papaya Force como dizem na Europa.
A Mclaren conseguiu organizar o time, hoje além de grandes pilotos a equipe trabalha bem, e os resultados vieram.
Agora dando uma olhada do lado vermelho do box, a Ferrari com Vasseur no comando dá sinais de que pode estar retomando o rumo do crescimento, veremos nos próximos meses. A expectativa com o time Leclerc/Hamilton é muito boa.
Empresa que já é parceira global da Fórmula 1 para elevar as experiências digitais tanto para as equipes de corrida quanto para os fãs, acaba de firmar com a Williams sua primeira parceria de equipe no esporte
A Williams Racing acaba de anunciar uma nova parceria com a Globant, empresa líder em transformação digital e patrocinadora de longa data do piloto Franco Colapinto.
A organização listada na Bolsa de Valores de Nova York, com mais de 29.100 funcionários e presença em 33 países, já é parceira global da Fórmula 1 para elevar as experiências digitais tanto para as equipes de corrida quanto para os fãs. Agora, a Williams se torna a sua primeira parceira de equipe no esporte.
Fundada na Argentina, a Globant se uniu rapidamente à Williams após o anúncio de que Franco Colapinto irá pilotar para a equipe ao lado de Alex Albon pelo restante da temporada de 2024, e enquanto a equipe se prepara para receber o espanhol Carlos Sainz em 2025. A Globant tem apoiado Colapinto em sua campanha na F2 e agora se torna parceiro às vésperas do Grande Prêmio da Itália, onde ele se tornará o primeiro piloto argentino na F1 após 23 anos sem um piloto titular nesta categoria do automobilismo.
A parceria com a Williams expande o trabalho da Globant com organizações esportivas de elite, como a Fórmula 1, FIFA e o LA Clippers, com foco em aproximar os fãs da ação, aplicando a mais recente tecnologia em experiências digitais.
A Globant é mais um grande parceiro a se juntar à Williams em 2024, enquanto a equipe continua sua transformação dentro e fora da pista em busca do sucesso no Campeonato Mundial. Desde o início do ano, a equipe também anunciou novas parcerias com Komatsu, Keeper Security e VAST Data, e renovou seu relacionamento com a Jumeirah Hotels and Resorts.
Martin Migoya, Co-founder e CEO, Globant: “Estamos orgulhosos em nos juntar à Williams Racing, um ícone dos esportes mais avançados tecnologicamente em nível global. Amamos sonhadores e Franco Colapinto realizou seu sonho através de seu talento, determinação e trabalho duro. Agora que ele conquistou um lugar na Fórmula 1, queremos continuar apoiando-o e à equipe que o ajudou ao longo do caminho. Como a maior empresa de tecnologia da América Latina, atendendo ao mercado global, estamos comprometidos em transformar a indústria esportiva, fornecendo soluções para aproximar os fãs do jogo e elevar cada experiência.”
James Vowles, Team Principal: “Estou encantado em dar as boas-vindas à Globant no Williams Racing, à medida que a Argentina se prepara para marcar seu mais recente marco na Fórmula 1. Essa parceria une duas organizações impulsionadas pela inovação e pela paixão de proporcionar experiências incomparáveis aos fãs, e estamos ansiosos para trabalhar juntos a partir deste fim de semana em Monza.”
Piloto da McLaren é ultrapassado na largada, mas se recupera e vence o GP da Holanda superando Verstappen, que havia vencido as três últimas corridas em casa
Lando Norris confirmou seu excelente momento e o da McLaren ao vencer o GP da Holanda, realizado neste domingo (25) no Circuito de Zandvoort. Com essa vitória, Norris quebrou um tabu pessoal, pois nunca havia vencido uma corrida em que largou da pole position, situação que ocorreu quatro vezes em sua carreira, sendo três delas nesta temporada. Max Verstappen, da Red Bull, terminou em segundo lugar, enquanto Charles Leclerc, da Ferrari, ficou em terceiro.
Com a vitória, Norris interrompeu o domínio de Verstappen em casa, que não havia perdido em solo holandês desde que o circuito retornou ao calendário da F1 em 2021, após 36 anos de ausência. Para a McLaren, essa foi a segunda vitória no país partindo da pole, a primeira foi com Alain Prost em 1984.
No campeonato, Norris, com 225 pontos, consolidou sua segunda posição e começa a se firmar como um forte candidato ao título de 2024, desafiando Verstappen, que lidera com 295 pontos. A McLaren, com 403 pontos, também se aproxima da Red Bull, que lidera o Mundial de Construtores com 434 pontos.
O GP da Holanda marcou o retorno das corridas após um intervalo de quase um mês, devido ao recesso da Fórmula 1 após o GP da Bélgica.
Largada e Primeiros Movimentos
Norris começou a corrida na pole position pela quarta vez nesta temporada, mas não conseguiu manter a liderança inicial. Max Verstappen teve uma largada rápida e assumiu a liderança logo nos primeiros metros. Oscar Piastri, o outro piloto da McLaren, perdeu a terceira posição para George Russell, da Mercedes. A corrida começou sem incidentes.
Hamilton iniciou uma recuperação impressionante, depois de largar em 15º devido a uma penalização por atrapalhar Sergio Pérez no Q1. Em 15 voltas, ele já havia avançado para a 10ª posição.
A Ultrapassagem de Norris
Na 17ª volta, Norris alcançou Verstappen, que lutava com pneus desgastados e relatou dificuldades em sua comunicação com a equipe. Norris ultrapassou Verstappen com facilidade, enquanto o holandês se queixava da falta de resposta do carro.
Paradas e Desempenho Final
Na 25ª volta, as primeiras paradas começaram com Leclerc e Russell indo aos boxes. Verstappen foi o primeiro dos três líderes a fazer seu pit stop, retornando à pista na 5ª posição. Norris seguiu para os boxes logo depois e voltou à frente de Verstappen.
Piastri, após a metade da corrida, superou Russell e assumiu a 4ª posição. Apesar de seu esforço para alcançar Leclerc e garantir um lugar no pódio, não conseguiu superar o piloto da Ferrari, que manteve o terceiro lugar. Norris, por sua vez, abriu uma vantagem confortável e cruzou a linha de chegada com 22 segundos de vantagem sobre Verstappen.
O translado para o Autódromo José Carlos Pace será na sexta-feira (23/8), a partir das 11 horas
Restos mortais serão sepultados ao lado do busto que existe no autódromo
Os restos mortais do piloto brasileiro José Carlos Pace, falecido em 18 de março de 1977 em um acidente aéreo no auge de sua carreira, serão transladados na próxima sexta-feira (23/8) para o autódromo de Interlagos, a pista que tanto amava e que oficialmente leva seu nome.
Não existe nenhum registro na história de um piloto, ainda mais de Fórmula 1, que esteja sepultado em um autódromo, e muito menos em uma pista que leve seu próprio nome. A honra caberá a José Carlos Pace, que no próximo dia 6 de outubro completaria 80 anos e, em 26 de janeiro do próximo ano, terá celebrados os 50 anos de sua vitória no GP do Brasil de Fórmula 1.
A ideia desta homenagem partiu e foi organizada pelo piloto Paulo “Loco” Figueiredo, presidente da Comissão Nacional de Veículos Históricos, Transporte e Turismo da CBA – Confederação Brasileira de Automobilismo, e pelo jornalista Ricardo Caruso, diretor do site Auto&Técnica, que foram informados da depredação do túmulo e vilipêndio dos restos mortais de “Moco”, como era chamado, no cemitério do Araçá, em São Paulo, SP. Constatada a triste situação e desrespeito, ambos iniciaram uma longa luta contra a burocracia, que incluiu reuniões com autoridades municipais, pelo menos 15 idas ao cemitério, buscas em cartórios, coleta de documentos e autorizações diversas. Tudo com apoio e ajuda da família Pace.
Finalmente, no dia 23 de agosto, Pace voltará à Interlagos, onde será sepultado e finalmente descansará em paz junto ao busto que existe no local em sua homenagem. O evento contará com a presença da família, amigos, jornalistas e admiradores do piloto. Está programada uma última volta pela pista, levado pelo seu filho Rodrigo Pace, que na ocasião não só irá pilotar um Karmann-Ghia de pista que foi de seu pai, como estará trajando o macacão e capacete originais do falecido piloto.
Esta devolução de respeito a José Carlos Pace contou com a dedicação de Paulo “Loco” Figueiredo e de Ricardo Caruso, e ainda com a ajuda inestimável da família Pace; de Giovanni Guerra, presidente da CBA; Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo e Marcelo Pinto, administrador do Autódromo José Carlos Pace, entre outros.
Todos estão convidados a homenagear o legado de José Carlos Pace.
Local: Autódromo de Interlagos, portão 7, São Paulo, SP
Charles Leclerc vai largar na primeira posição no GP da Bélgica. No treino classificatório deste sábado (27), o piloto da Ferrari intensificou o ritmo na volta final e comemorou a 25ª pole da carreira. Esta é uma conquista significativa para Leclerc e para a Ferrari, que não colocava um piloto na primeira posição na largada desde o GP de Mônaco.
Chuva mudou um pouco as perspectivas no treino. Crédito: Ferrari
Pérez e Hamilton largam em segundo e terceiro, respectivamente. Max Verstappen chegou a fazer a melhor marca (1:54.938), mas como foi punido em dez posições por ajustes ilegais no carro, ocupará apenas o 11º lugar no grid. O último bom desempenho de Leclerc e da Ferrari foi justamente no GP de Mônaco, vencido pelo piloto monegasco.
Depois da chuva forte ao longo da manhã na Bélgica, que inclusive cancelou a corrida sprint da Fórmula 2, a qualificação da Fórmula 1 teve início com a pista em transição de molhada para seca. Já no Q1, com duração regressiva de 18 minutos, os pilotos foram à pista com pneus intermediários e dispostos a andar rápido, já que havia a previsão da volta dos temporais.
A nova chuva não veio até aquele momento, e a dois minutos do fim da primeira seletiva, as equipes voltaram ao circuito com o traçado bem mais seco. Assim, Russell escapou da eliminação precoce para a terceira colocação. Piastri, Gasly e Verstappen foram os três mais velozes.
No Q2, que alternava pontos secos e com água, houve dúvidas sobre a melhor estratégia. Verstappen seguia ditando o ritmo, enquanto as Mercedes, que correram risco, subiram para a segunda e a terceira colocação. No pelotão do fundo, Alonso, Perez escaparam da eliminação.
Eliminados no Q2
11 – Alexander Albon (Williams) 12 – Pierre Gasly (Alpine) 13 – Daniel Ricciardo – Racing Bulls 14 – Valtteri Bottas (Sauber) 15 – Lance Stroll – (Aston Martin)
Na etapa final, a disputa se acirrou pela volta da chuva, com Verstappen ainda forçando para garantir o melhor tempo e amenizar a punição de 10 posições. Perez, o companheiro de Red Bull, também andava bem, a três minutos do fim. No entanto, Leclerc forçou o ritmo e fez a 25ª pole a partir da punição de Verstappen.
Melhores do Q3
1 – Max Verstappen – (Red Bull) *punido com dez posições 2 – Charles Leclerc – (Ferrari) 3 – Sergio Pérez (Red Bull) 4 – Lewis Hamilton – (Mercedes) 5 – Lando Norris – (McLaren)