ESPORTESNET

Cinco de novembro de 2015, o mundo presenciava um dos maiores desastres ambientais da história da mineração: o rompimento da barragem de Mariana, no interior de Minas Gerais. 25 de janeiro de 2019, o que parecia improvável aconteceu, mais uma vez. A barragem de Brumadinho se rompeu e a lama de rejeitos de minérios matou 262 pessoas na pequena cidade de Minas. As tragédias, que chocaram o mundo, acenderam um alerta para a condução da atividade de extração de minério e colocaram em evidência a mineração a seco.

O modelo atual, usado por grande parte das mineradoras ao redor do globo, é o de rejeito úmido. Nele, o minério é beneficiado utilizando água. Por isso, toda mineradora que realiza esse método precisa ter, em sua estrutura, barragens para a dispensação dos rejeitos. Apesar de ser uma opção mais em conta, a mineração úmida oferece maior risco ambiental, e até humanitário, quando não está enquadrada na Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB). Hoje, o Brasil possui pouco mais de 900 barragens de mineração cadastradas no Sistema Integrado de Gestão de Segurança de Barragens de Mineração (SIGBM).

Mineração a seco segue como tendência no setor 

Por causa dos riscos de grandes acidentes com perdas de vidas e danos ao meio ambiente, o setor de mineração tem migrado para soluções mais eficientes e de menor impacto. A mais procurada é a Dry Stacking, o empilhamento a seco, termo usado pela primeira vez em outros setores da economia mundial na década de 60. A tecnologia que utiliza filtro prensa permite que o minério seja beneficiado com pouca ou até nenhuma água. Na prática, o que resta do processamento do minério é filtrado e disposto em grandes pilhas substituindo as tradicionais barragens.  É como se o filtro ‘espremesse’ a lama de rejeitos dando origem a algo seco e fácil de empilhar. Segundo estudo publicado no artigo, Empilhamento a seco para rejeitos de processos minerais (dry stacking), de 2015, do Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa, o método de filtragem pode garantir o reaproveitamento, em alguns casos, de mais de 95% da água utilizada no processo. 

A corrida pela implementação dessa tecnologia tem sido acelerada. É que após as catástrofes ao meio ambiente e a morte de pessoas, o pelo poder público e os órgãos de controle do setor se tornaram mais rigorosos. A Agência Nacional de Mineração (ANM), determinou que as barragens úmidas sejam descomissionadas e descaracterizadas até agosto de 2023. Algumas mineradoras, espalhadas pelo Brasil, começaram a utilizar a mineração a seco, por fatores socioambientais e econômicos. Em Minas Gerais, uma delas instalou filtros prensa em junho de 2020 e com isso a empresa deixou de despejar rejeitos nas barragens úmidas em fevereiro de 2021. A economia de água também foi real para a empresa. “Com a implementação dessa tecnologia conseguimos reutilizar 13 mil metros cúbicos de água em outras atividades dentro da mineradora. Excelente oportunidade para otimizar os processos e ajudar o meio ambiente”, afirmou Fernando Almeida, gestor ambiental da empresa. 

Segurança e soluções ecológicas para os rejeitos

A nova tendência de mineração a seco, com rejeitos filtrados e empilhados, traz mais segurança ao processo. Os resultados vão muito além de um beneficiamento mais eficiente. Com a implementação do Dry Stacking e, consequentemente, a redução das barragens tradicionais, há também maior tranquilidade para os moradores que vivem próximos às mineradoras. Afinal, sem o risco do derramamento dos rejeitos úmidos, não há perdas de vidas e o meio ambiente não sofre com grandes degradações.

Elmar mora bem perto de uma barragem e acredita que com o uso de mineração a seco, a população estará mais segura. “Eu sempre tive um grande receio em relação à barragem, minha família mora comigo e eu sempre temi pela vida de todo mundo aqui. A descaracterização das barragens me fez confiar mais no processo de mineração e acredito que toda a população se sentiu mais segura e confiante”, afirmou o morador que é vizinho de uma das barragens da mineradora Itaminas, em Sarzedo, interior de Minas.

Além da segurança e dos benefícios ambientais, a mineração a seco traz novas possibilidades para as mineradoras. É que o processo gera um substrato que pode ser utilizado por outras empresas para a produção de novos produtos como: areia usada para a pavimentação de asfalto, tijolos para a construção, que chegam a ser mais resistentes que os convencionais, além de outros produtos. Sem contar que as ‘montanhas’ formadas pelos rejeitos secos, podem ganhar, com o passar dos anos, vegetação e serem reincorporadas à natureza. Solução eficiente que ajuda a colocar as mineradoras dentro das boas práticas de ESG, sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa. 

https://www.itaminas.com.br/