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Ainda sofrendo com as consequências da pandemia de Covid-19, o Brasil pode passar por novo período de baixa criação de empregos e deterioração da economia devido ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Um levantamento feito pela FGV (Fundação Getulio Vargas) mostra que a taxa de desemprego deve se manter estável no país durante 2022 inteiro, com uma queda de 0,1% em relação a dezembro de 2021. 

De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego caiu para 11,2% no trimestre encerrado em janeiro deste ano, um recuo de 0,9% na comparação com o trimestre anterior. Contudo, o país ainda soma 12 milhões de pessoas procurando trabalho. Para especialistas, a dificuldade na retomada do emprego, presente no país desde 2016, torna-se maior com as crises mundiais recentes. 

“O conflito instaurado entre a Rússia e a Ucrânia fomenta um dos maiores temores do mercado, o desemprego. Era tudo o que o mundo não precisava depois da confusão toda com a Covid-19, que além de desencadear ondas de choque a todas as cadeias globais, propiciou grandes crises aos países capitalistas, pois as economias são dependentes entre si”, afirma Felício Rosa Valarelli Júnior, especialista em economia e desenvolvimento empresarial.

Os impactos do conflito também afetam as projeções de crescimento da economia. A Secretaria de Política Econômica anunciou uma redução da projeção para a alta do PIB deste ano para 1,5%, ante 2,1% da projeção anterior. Para 2023, a projeção foi mantida em 2,5%. Na opinião de Júnior, a guerra deve produzir impactos consideráveis na economia brasileira e afetar o bolso da população do país. 

“Vai ocasionar um aumento maior ainda nas taxas de inflação, alimentadas pelas altas dos combustíveis que acabam promovendo um efeito cascata na precificação de todos os produtos na economia, principalmente dos alimentos”, afirma.

Ele explica que tais impactos são derivados principalmente das sanções econômicas impostas à Rússia pelos países do Ocidente. “Não se pode esquecer que os ‘camaradas  soviéticos’ são um dos principais parceiros comerciais dos brasileiros, sendo o 6º país que mais exporta para cá. Considerando a relação de causa efeito esperado em relação ao conflito, sabe-se que as sanções devem promover uma alta generalizada dos preços”, pontua.

Para o especialista em economia, entre os grandes problemas decorrentes da guerra no Leste Europeu que impactam os brasileiros estão a alta nos insumos do agronegócio, o aumento no preço do petróleo e a subida do dólar. Abaixo estão listados como a guerra afeta cada um desses pontos. 

Agronegócio

A importação de fertilizantes e insumos agrícolas pelo Brasil acaba sendo comprometida com o conflito na Ucrânia. Esses produtos estão entre os principais itens de importação do país. 

“Os principais produtos comercializados pelo Brasil com outros países são aqueles relacionados com o agronegócio, principalmente trigo, milho e os fertilizantes. Com o comércio entre eles afetado, a consequência é um aumento nos preços das commodities agrícolas”, explica Valarelli Júnior. 

Outro problema é que a inflação, mais alta, afeta o preço de grãos como a soja e o milho. 

Petróleo

Com as preocupações relacionadas à escalada da guerra e ao aumento das sanções contra a Rússia, aumentam os temores relacionados ao fornecimento de energia para os diferentes países do mundo. Isso tem levado a altas seguidas do barril de petróleo, que tem ultrapassado US$ 110 (cerca de R$ 544), maior valor em oito anos. 

“Sabe-se que com a aliança existente entre a Rússia e a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), a tendência natural seria a manutenção atual da produção. No entanto, os EUA já anunciaram o fechamento dos portos americanos para a importação e o governo britânico deve eliminar as importações do petróleo russo e seus derivados até o final deste ano”, diz o especialista em desenvolvimento empresarial. 

Dólar

Por fim, o empresário aponta como preocupante as altas seguidas do dólar, explicadas pela fuga de capitais do país. “O conflito entre a Rússia e a Ucrânia ocasionou um choque de oferta. O temor pela escassez de produtos apavora o mercado econômico, traz incertezas e impulso à inflação, o que, via de consequência, ocasionou a fuga de capitais para países virtualmente mais seguros economicamente”. 

Para ele, com os países desenvolvidos afetados, o Brasil deve “ocupar solenemente seu lugar como coadjuvante nesse triste script”. Ao fim, quem sofre é o brasileiro. “Com pessoas e mais pessoas desempregadas, a renda das famílias vai por água abaixo, o que leva à escassez do consumo”, completa.

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