A dinamização do setor de serviços financeiros, que sistematicamente contempla novas inovações ocasionadas pelo uso da tecnologia, trouxe nos últimos anos uma novidade que cresce de forma exponencial em todo o planeta: as fintechs, que como o próprio nome aponta, têm seu conceito baseado na união das palavras em inglês “financial” e “technology” (“financeiro” e “tecnologia, respectivamente, em tradução livre”).
Regulamentadas pelo Banco Central em 2018, estas startups do setor financeiro já somam ao menos 1158 em todo o país, de acordo com relatório “Distrito Fintech Mining Report 2021”, divulgado em abril pela plataforma de inovação aberta Distrito. Trata-se de um crescimento de 207% nestes três anos de mercado regulamentado – em 2018, eram apenas 377 fintechs no país.
Ainda de acordo com estudo sobre as fintechs no Brasil, estas empresas podem ser divididas nas seguintes categorias: backoffice, criptomoedas, investimentos, câmbio, crowdfunding, meios de pagamento, cartões, dívidas, crédito, fidelização, risco e compliance, finanças pessoais, serviços digitais e tecnologia. Dentre estas divisões, as fintechs voltadas para meios de pagamento são a maioria, com 174 empresas (15% do mercado), seguidas pelas fintechs de crédito (157) e backoffice (153).
Outro levantamento, publicado no início de novembro, deu conta que, nos nove primeiros meses do ano, as fintechs brasileiras fizeram 124 rodadas de investimento – mesmo número do ano passado inteiro -, amealhando um valor de US$ 4,9 bilhões (cerca de R$ 27,3 bilhões). De acordo com o estudo, realizado pela plataforma de dados sobre startups Sling Hubs sob encomenda do jornal O Estado de S.Paulo, trata-se de um crescimento de 172% em relação a 2020, quando a quantia captada foi de US$ 1,8 bilhão (aproximadamente R$ 10 bilhões).
Esta expansão das startups financeiras no Brasil tem sido acompanhada pela diversificação dos serviços oferecidos por estas empresas. Em reportagem recente da Folha de S.Paulo, foi exposto como diferentes instituições do setor têm atuado junto a específicos, como mulheres, negros e a comunidade LGBTQIA+, bem como com fundos de investimentos compostos apenas empresas envolvidas boas práticas ambientais, sociais e de governança.
“Fintechs de nicho”
Estas chamadas “fintechs de nicho” têm surgido com mais força no mercado nos últimos anos, após um período inicial de estabelecimento destas companhias no mercado, em que o foco principal delas se dava na diferenciação das instituições financeiras “tradicionais”, oferecendo produtos básicos, como cartão de crédito sem anuidade para pessoa física e a abertura de uma conta pelo aplicativo. Assim, além do foco direcionado a diferentes perfis sociais, há uma demanda pelos serviços direcionados a grupos específicos do mercado de trabalho.
Setores que movimentam altas quantias de dinheiro e demandam grande fluxo de caixa são, pelas especificidades de seus negócios, potenciais alvos para as “fintechs de nicho”. Neste sentido, o mercado condominial foi, naturalmente, um segmento da economia a ser explorado pelas starups financeiras no Brasil. De acordo com dados da Receita Federal, existem, atualmente, mais de 500 mil condomínios registrados no país, movimentando R$ 60 bilhões por ano apenas em taxas condominiais. Além disso, de acordo com a ABRASSP (Associação Brasileira de Síndicos e Síndicos Profissionais), a receita total gerada pelos condomínios brasileiros ultrapassa o montante dos R$ 165 bilhões por ano.
Para Artur da Silva Junior, CEO da CondoBlue, fintech especializada em condomínios, o atendimento a segmentos específicos do mercado é uma das principais diferenças das startups financeiras das companhias mais “tradicionais” do setor. O executivo afirma que as “fintechs de nicho” unem o conhecimento financeiro, de tecnologia e do setor no qual elas estão inseridas – no caso da empresa de Silva Junior, o mercado condominial.
“A experiência acumulada no segmento de condomínios permite a uma fintech do ramo entender suas reais necessidades, possibilitando, por exemplo, que a linhas de crédito contemplem o funcionário do condomínio, o próprio condomínio ou síndico e até seus fornecedores”, diz o profissional.
Atuando no segmento de crédito, já existem ao menos uma dezena de fintechs voltadas ao setor condominial espalhadas pelo país, de acordo com levantamento realizado pela revista especializada Fintechs Brasil em junho deste ano.
Para Silva Junior, a ampliação do foco das ofertas de linhas de crédito aos moradores dos condomínios é uma das recentes inovações trazidas pelas fintechs da área. “Há mais de uma década as instituições financeiras tradicionais têm tentado atender o segmento de condomínios, mas, no final, o resultado é que há falta de foco e a entrega é ‘mais do mesmo’”, diz ele. “Isso mostrou pra gente que existe um espaço enorme para inovar e crescer neste segmento, principalmente quando o foco também é o morador. Uma conta digital, cartão ou crédito devem ser pensados na realidade deste segmento e não como qualquer outro”.
Após a regulamentação das fintechs por parte do Banco Central em 2018, um novo enquadramento a estas instituições foi feito recentemente pelo órgão que monitora e fiscaliza o sistema financeiro: desde o dia 1º de novembro, os consórcios e as instituições de pagamento, categoria que abrange as fintechs e os bancos digitais, são obrigadas a ter políticas de relacionamento com clientes similares às dos bancos tradicionais, oferecendo canais como centrais de atendimento e ouvidorias para que esta comunicação seja realizada.
“Uma fintech deve inovar através do uso da tecnologia na entrega de serviços financeiros”, pontua Silva Junior. “Essa inovação não é só ser diferente do modelo tradicional, mas também impactar de forma positiva a vida das pessoas, dando acesso a crédito, serviços de qualidade e principalmente gerando consciência financeira”.
Para saber mais, basta acessar: https://www.condoblue.com/