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Um dos fatores que comprovadamente agravam os problemas nas articulações do joelho e quadril é o sobrepeso. Dois importantes dados estão chamando a atenção dos especialistas neste momento: o aumento da obesidade na população pós-pandemia e a redução no número de procedimentos para tratar problemas nas articulações do joelho e quadril.

Dados disponíveis no Datasus, do Ministério da Saúde, apontam uma queda de 63% no número de cirurgias de próteses de joelho pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no país.

Já os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que correspondem aos procedimentos feitos por planos de saúde no país, também apresentaram queda de 41,39%. Ao todo, foram realizados 10, 62 mil procedimentos em 2019 e em, 2020, apenas 6.224. Os dados de 2021 ainda não estão disponíveis.

Apenas no Paraná a redução no número de próteses de joelho pelo SUS foi de 68%, saindo de 1.088 procedimentos realizados em 2019, para 329 em 2021. Já pelos planos de saúde a redução foi de 25,77%, saindo de 1,62 mil procedimentos em 2019, para 6.224 em 2021.

O estudo – publicado em novembro de 2021, pelo Brazilian Journal of Development e intitulado “Impacto da pandemia pelo Covid-19 nos procedimentos de Artroplastia Total do Joelho (ATJ) no SUS” – apontou esta redução, sendo que a região mais afetada foi o Centro-Oeste do país, com uma diminuição de 79,20% nas cirurgias.

A ATJ ou prótese total do joelho é uma cirurgia que substitui a articulação por uma prótese, o que ajuda a devolver o movimento e a qualidade de vida para o paciente, independente da faixa etária. O objetivo é melhorar sintomas da artrose, corrigir o alinhamento e melhorar a mobilidade do joelho. 

“O estudo indica uma real necessidade de estratégias para otimizar o tratamento dos pacientes que necessitam de ATJ na saúde pública e privada devido ao represamento da demanda durante a pandemia da Covid-19”, alerta o ortopedista Rogério Fuchs, com mais de 35 anos de atuação na área. 

Queda nacional – Para que se tenha ideia, entre março e dezembro de 2019, foram realizadas pelo SUS 7.407 cirurgias de ATJ, sendo 86 na região Norte, 608 no Nordeste, 4.165 no Sudeste, 2.149 no Sul e 399 no Centro-Oeste. Já no mesmo período de 2020, foram feitas apenas 2.735 cirurgias de ATJ nas cinco regiões do país, sendo 23 no Norte, 254 no Nordeste, 1605 no Sudeste, 770 no Sul, e 83 no Centro-Oeste. Respectivamente , as reduções chegaram a 73,25%, 58,22%, 61,46%, 64,17% e 79,20%. 

Obesidade – Segundo o ortopedista, cada quilo a mais na balança representa uma sobrecarga de, aproximadamente, 8 quilos para as articulações dos joelhos. “A obesidade agravou muito os problemas nas articulações durante o período de isolamento, devido a redução nas possibilidades de os pacientes realizarem atividades e aliado ao aumento na ingestão de alimentos”, reforça Fuchs.

Recentemente o The Journal of Arthroplasty divulgou um artigo onde a Associação Americana de Cirurgiões de Quadril e Joelho recomenda que pacientes com sobrepeso e obesidade continuem seus tratamentos ortopédicos, principalmente artroplastias de quadril e joelho. 

Já a recente pesquisa Diet & Health Under Covid-19, que entrevistou 22 mil pessoas de 30 países, em 2021, identificou que foram os brasileiros os que mais ganharam peso durante a pandemia de COVID-19. Aqui, cerca de 52% dos entrevistados declararam ter engordado. A média global é de apenas 31%. Ainda segundo a pesquisa, os brasileiros ganharam, em média, cerca de 6,5 quilos neste período. Além disso, de acordo com a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde, um em cada quatro adultos está obeso. São 29,5% das mulheres e 21,8% dos homens.

Quadril – O ortopedista especializado em cirurgia do quadril, Thiago Fuchs, afirma que a obesidade, em relação a articulação do quadril, segue a mesma linha. 

“O quadril sofre muita influência em relação ao peso do paciente. Isso porque o quadril suporta, por passo, de duas a três vezes o peso do corpo. Então, este aumento de peso constatado durante a pandemia é fator de risco para o desenvolvimento da artrose e, para aqueles que já têm lesões degenerativas, os sintomas de dor e dificuldade de locomoção pioram muito”, afirma.

O cirurgião do quadril também faz um alerta para pacientes que aumentaram o peso e querem retomar as atividades físicas. “Estas pessoas terão mais dificuldades de retorno à prática de atividade física, tendo maior risco de lesão. É preciso cuidado e acompanhamento profissional para um retorno gradual”, finaliza Thiago Fuchs.