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  • Brasil não conquista títulos, mas vai bem no Dakar

    Brasil não conquista títulos, mas vai bem no Dakar

    Representantes do país venceram oito especiais em quatro categorias

    A delegação brasileira enfrentou uma dura edição do Rally Dakar, que se encerrou nesta sexta-feira (19), depois de ter iniciado no dia 5 de janeiro.

    Ao todo, foram 12 especiais – trechos cronometrados, equivalentes a um dia de corrida –, além do prólogo que definiu a ordem de largada.

    Disputado na Arábia Saudita, o Dakar impôs às duplas do país uma rotina rigorosa e incerta, que incluiu noites sem dormir, acidentes, dias perdidos no deserto e até a interferência de piratas do Mar Vermelho.

    Com 17 representantes, divididos em duplas ou com parceiro estrangeiro, os competidores do Brasil venceram oito especiais nas quatro categorias que disputaram – em todas, havia nomes listados entre os favoritos.

    Na categoria Carros, o país contou com três veículos (veja abaixo). A grande expectativa estava com Lucas Moraes, que estreava como piloto de uma equipe grande e retornava à prova depois de conquistar o primeiro pódio da história para o Brasil, em 2023.

    Agora com o navegador espanhol Armand Monleón, Moraes venceu a terceira especial e ocupou o terceiro lugar na classificação geral durante quatro dias. No penúltimo dia, quando já passava à vice-liderança, uma quebra da suspensão nos quilômetros finais tirou-lhe a chance do segundo pódio consecutivo.

    Mais destaques – O país foi mais numeroso na categoria UTV T3, na qual a dupla Marcelo Gastaldi e Cadu Sachs chegou forte, vencendo a 10ª e a 12ª especiais e terminando em sétimo ao final dos 4.692 km de corrida. Com o quinto lugar, outro destaque foi o navegador Gustavo Gugelmin, que correu novamente em parceria com o piloto norte-americano Austin Jones. A vitória na primeira especial passou perto: Gugelmin e Jones chegaram em segundo.

    A UTV T4 ofereceu momentos de emoção variada. Para começar, a dupla formada pelo campeão sul-americano de Rally Raid, Rodrigo Varela, e o navegador Enio Bozzano Junior teve que arrumar um carro às pressas, faltando poucos dias para a prova.

    O navio que levava seu equipamento teve que usar uma rota milhares de quilômetros mais longa para fugir de piratas do Iêmen no Mar Vermelho – os mesmos que continuam no noticiário por atacarem grandes cargueiros, causando um embaraço internacional.

    De carro improvisado e mal-acabado, o duo surpreendeu vencendo a primeira especial e ocupando as primeiras posições até a quebra do carro, na sexta especial, o que os obrigou a passar duas noites isolados no deserto, racionando água e comida.

    Na mesma categoria, o Brasil teve um competidor eficiente em Cristiano Batista, que formou dupla com o navegador espanhol Fausto Mora. O duo venceu a nona especial e, assim como Varela/Bozzano, figurou entre os principais nomes durante praticamente todos os dias.

    O maranhense Marcelo Medeiros foi um nome dominante na categoria Quadriciclos. Vencedor da primeira, segunda e quinta especiais, ele ocupou a liderança da classificação geral e parecia caminhar para o título até sofrer um acidente na sétima especial.

    O Dakar 2024 percorreu 7.891km na Arábia Saudita, com 4.692km de especiais. Os 778 inscritos de 72 nacionalidades foram divididos em oito categorias. Confira quem foram os campeões e todas as informações, abaixo.

    A equipe dos brasileiros Rodrigo Varela e Enio Bozzano Júnior finaliza o Dakar
    (Magnus Torquato/Fotop)



    Brasileiros no Dakar

    Carros – T1
    *Lucas Moraes (BRA)*
     / Armand Monleon (ESP), Toyota GR DKR Hilux, 9º colocado. Venceu a 3ª especial
    Cristian Baumgart (BRA) / Alberto Andreotti (BRA), Prodrive Hunter, 13º colocado
    *Marcos Baumgart (BRA) / Kleber Cincea (BRA)*, Prodrive Hunter, abandonou por quebra

    Quadriciclos
    Marcelo Medeiros (BRA)
    , Yamaha Raptor 700, não completou. Venceu a 1ª, 2ª e 5ª especiais

    UTVs T3

    Austin Jones (EUA) / Gustavo Gugelmin (BRA), Can-Am Maverick XRS Turbo, 5º colocado
    Marcelo Gastaldi (BRA) / Carlos Sachs (BRA), Taurus T3 Max, 7º colocado. Venceram a 10ª e 12ª especiais
    Oscar Peralta (PAR) / Lourival Roldan (BRA), Can-Am Maverick X3, 11º colocados
    Gunter Hinkelmann (BRA) / Fabricio Bianchini (BRA), Taurus T3 Max, 22º colocados

    UTVs T4
    Cristiano Batista (BRA) / Fausto Mora (ESP), Can-Am Maverick XRS Turbo. 7º colocados. Venceram a 9ª especial
    Jorge Wagernfuhr (BRA) / Humberto Ribeiro (BRA), Polaris RZR Pro R, 14º colocados
    Rodrigo Varela (BRA) / Enio Bozzano Junior (BRA), Can-Am Maverick XRS Turbo. Abandonaram por quebra. Venceram a 1ª especial

    RESULTADOS

    Campeões da edição 2024
    Categoria Carros: Carlos Sainz (ESP) / Lucas Cruz (ESP), Audi RS Q e-tron E2

    Motos: Ricky Brabec (EUA), Honda CRF 450 Rally
    Quadriciclos: Manuel Andujar (ARG), Yamaha Raptor 700
    UTVs T3: Cristina Gutierrez Herrero (ESP) / Pablo Moreno Huete (ESP), Taurus T3 Max
    UTVs T4: Xavier de Soultrait (FRA) / Martin Bonnet (FRA), Polaris RZR Pro R
    Caminhões: Martin Macik (TCH) / Frantisek Tomasek (TCH) / David Svanda (TCH), Iveco Powerstar
    Clássicos: Carlos Santaolalla Milla (ESP) / Jan Rosa Viñas, Toyota Land Cruiser


    46ª EDIÇÃO DO RALLY DAKAR
    _7.891 km de percurso total. Especiais somam 4,692 km_
    _Data / locais / total do dia / especial_
    06/01, Etapa 01 – Al Ula –> Al Henakiyah – 414 km
    07/01, Etapa 02 – Al Henakiyah –> Al Duwadimi – 431 km
    08/01, Etapa 03 – Al Duwadimi –> Al Salamiya –447 km
    09/01, Etapa 04 – Al Salamiya –> Al-Hofuf – 299 km
    10/01, Etapa 05 – Al Hofuf –> Shubaytah – 118 km
    11-12/01, Etapa 06 – Shubaytah  –> Shubaytah (48 horas) – 572 km
    13/01 – Descanso
    14/01, Etapa 07 – Riyadh –> Al Dawadimi – 483 km
    15/01, Etapa 08 – Al Dawadimi –> Hail – 458 km
    16/01, Etapa 09 – Hail –> Al Ula – 417 km
    17/01, Etapa 10 – Al Ula –> Al Ula – 371 km
    18/01, Etapa 11 –Al Ula –> Yanbu – 480 km
    19/01, Etapa 12 – Yanbu –> Yanbu – 175 km

    Competidores
    778 inscritos
    72 nacionalidades

    Veículos e Categorias
    Carros: 72 (5)*
    Motos: 148
    Quadriciclos: 10 (1)
    Protótipos Leves: 66
    UTVs (Challengers, T3): 42 (6)
    UTVs (de produção, T4): 36 (5)
    Caminhões: 46
    Clássicos: 14
    Total: 434 veículos
    *Nota: entre parêntesis, quantidade de competidores brasileiros, que totalizam 17, a maior delegação brasileira no Rally Dakar

  • Dakar larga neste domingo de olho no futuro

    Dakar larga neste domingo de olho no futuro

    Novidades técnicas, segurança, diversidade e mulheres no grid da mais brutal prova do mundo

    Na madrugada deste domingo (3) será dada a largada da 43ª edição do Rally Dakar, a mais exigente competição a motor internacional. Mas não será uma edição qualquer: em um mundo que pulsa com mudanças tecnológicas e sociais, a organização da prova se esforça para colocar o evento na trilha correta.

    Em 2021, ao mesmo tempo em que cultiva a tradição com a criação da categoria Classic para carros históricos que disputaram o Dakar até o ano 2000, o rally também flerta com o futuro ao anunciar o projeto que fará todos os carros e caminhões trocarem a motorização a combustão pela movida a hidrogênio, uma tecnologia promissora mas ainda em desenvolvimento.

    Paradoxalmente, o Dakar tem acordo de exclusividade para a realização de suas provas na Arábia Saudita, maior exportadora de petróleo do planeta.

    “Desde que surgiu, em 1979, um dos méritos do Dakar sempre foi ser um laboratório a céu aberto para a indústria”, diz o brasileiro Reinaldo Varela, da equipe Monster Energy Can-Am, que tenta o bicampeonato da prova ao lado do navegador Maykel Justo. “Esse anúncio é uma forma de atrair as montadoras, que precisam desse tipo de ambiente competitivo para acelerar o desenvolvimento de seus produtos”, avalia o brasileiro, que venceu a prova em 2018 na categoria UTV.

    A transformação anunciada pelo francês David Castera, diretor esportivo da ASO, organizadora do Dakar, obrigará as principais equipes a utilizar veículos a hidrogênio já em 2026 – com todos os inscritos adotando a tecnologia a partir de 2030, justamente o ano em que a Arábia Saudita completará o seu plano de diversificação tecnoeconômica, do qual o Dakar vai se tornando um dos principais arautos.

    Cidade do futuro – “Não é à toa que todas as equipes estão convidadas para a cerimônia de apresentação formal dos planos da motorização a hidrogênio do Dakar, que vai acontecer justamente em Neon, local onde os sauditas estão construindo o que chamam de “cidade do futuro””, ressalta Maykel Justo, que tem experiência no Dakar não apenas nos UTVs, mas também nos carros e caminhões.

    “Essa apresentação será no dia 11 de janeiro, em plena disputa do Dakar, quando terminaremos o dia em Neon”, completa o navegador da equipe Monster Energy Can-Am. Ainda no plano tecnológico, mas com viés ambiental, o acampamento do Dakar em Neon será o primeiro da história abastecido com energia solar, algo que a ASO pretende adotar como regra nas futuras edições.

    A prova que larga neste domingo também apresenta outras novidades. Por exemplo, 16 mulheres estão inscritas para enfrentar o brutal roteiro de 12 dias de competição ao longo de quase oito mil quilômetros. Entre elas, um time feminino capitaneado pela piloto italiana Camelia Liparoti e a navegadora Annet Fischer, na categoria Protótipos Leves.
    Nascido na França e administrado por uma empresa europeia, o Dakar também começa a mudar o tom de sua pele. Segundo a organização, entre os 49 países representados pelos competidores, a predominância ainda é de italianos, franceses e alemães.

    Mas os sul-americanos e asiáticos, com destaque para os chineses, indianos e países da região árabe, são uma população que cresce sem parar. “O inglês é o idioma universal aqui, mas atualmente podemos tranquilamente nos virar no Dakar falando espanhol e também português”, destaca Maykel Justo, lembrando do contingente de representantes de nações latino-americanas.

    Mortes em 2020 – Ao longo de sua história o Dakar registrou a morte de 30 competidores, além de outras 45 vítimas entre membros de equipes e moradores locais. A prova chegou inclusive a receber a alcunha de rally da morte. Em sua mais recente edição, a corrida teve dois acidentes fatais, ambos de moto – do português Paulo Gonçalves, 40 anos, e do holandês Edwin Straver, 48. Para 2021, a ASO teve como meta aumentar a segurança nas dunas do deserto saudita, produzindo um roteiro no qual o foco será mais a qualidade da pilotagem e da navegação do que a velocidade pura.
    “Isso beneficia quem é mais técnico e experiente”, diz Varela. “Mas não alivia em nada o nível de dificuldade do rally como competição. Muito pelo contrário”, pontua. No caso das motos, foram limitados o uso de pneus novos na traseira (seis unidades) e troca de pistões (uma), obrigando os pilotos a poupar o equipamento para chegar ao final da competição no dia 15 de janeiro.

    Outra novidade é um bipe que soará dentro dos veículos ao se aproximarem de zonas sabidamente perigosas. “É um sistema que funciona orientado por GPS”, revela Reinaldo Varela. “Muitas vezes, o cansaço impede o navegador de notar certos detalhes na planilha. Certamente esse aparelho vai poupar muita gente de situações perigosas, e quem sabe salvar vidas. Parabéns para a organização”, elogia o campeão do Dakar de 2018.

    O Dakar em resumo – Com largada no próximo domingo, dia três de janeiro e disputada inteiramente na Arábia Saudita, a 43ª edição do Dakar terá em seus 7.646km um total de 4.767km de especiais – trechos cronometrados em alta velocidade.

    Os restantes 2.879km são correspondentes aos deslocamentos entre os pontos de largada e chegada em cada um dos doze dias. O roteiro da prova começa e termina Jedá. Além de Reinaldo Varela e Maykel Justo, o Brasil será representado na UTV pelo navegador Gustavo Gugelmin, com as duplas Marcelo Gastaldi/Lourival Roldan e Guilherme Spinelli/Youssef Haddad que na categoria Carros. Para tentar o bicampeonato, Varela e Maykel Justo também contam com apoio de Norton, Divino Fogão e Motul.