Temporada brasileira mostrou avanços dentro e fora das pistas
O automobilismo brasileiro pode comemorar uma temporada de sucesso ao final deste ano de 2021 e motivos para isso são vários e extrapolam o retorno da F-1 ao autódromo de Interlagos.
O crescimento do número de praticantes foi notado em diversas frentes, novos autódromos estão sendo construídos e a TV aberta abriu espaços para eventos de várias modalidades.
A volta do público às arquibancadas, após dois anos de tribunas vazias por causa da pandemia do Covid-19 e suas diversas cepas, é outro ponto positivo nesse balanço. Nos bastidores da política desportiva a nova gestão da Confederação Brasileira de Automobilismo, liberada por Giovanni Guerra, realizou em seu primeiro ano o que as administrações anteriores não produziram, em particular na promoção de eventos fora do eixo Sul-Sudeste.
O número de pilotos ativos e com carteira válida para 2021 ficou em torno de 8.700 filiados em várias categorias. É um número menor que os cerca de 10.800 mil listados 10 anos atrás.
Mesmo assim, há motivos para apostar em um crescimento na temporada de 2022: o Campeonato Brasileiro de Kart deste ano reuniu 545 participantes (23 a mais que a marca anterior, em 2017) e estabeleceu novo recorde de inscrições no evento, já considerado o maior certame mundial da modalidade. Mais interessante disso é a alta adesão de concorrentes nas categorias Mirim (25) e Cadete (70), classes reservadas a crianças de até 8 anos e 11 anos, respectivamente.
Considerados os praticantes que não participaram do Brasileiro é possível dobrar esses números, que reforça uma base em amplo crescimento. A Copa Norte-Nordeste de Kart prestigiou a cena regional e abriu espaço para provedores de serviços alternativos aos já consolidados no Sul e Sudeste.
Na outra ponta do cenário promissor está a construção de novas pistas em Chapecó (SC), Cuiabá (MT) e Tremembé (SP). O circuito catarinense será o terceiro da cidade e o primeiro asfaltado em um Estado que é polo nacional da modalidade Velocidade da Terra.
Cuiabá desponta com um projeto dos mais ambiciosos: será o primeiro autódromo do País com o circuito totalmente iluminado, algo importante em uma cidade famosa pelo clima quente. Seu percurso de 4.581 metros está inserido em uma área de lazer que ocupa 3 milhões de metros quadrados e inclui instalações para provas de arrancada, kart, off road e velocidade na terra.
A pequena Tremembé, no Vale do Paraíba, já é conhecida pelo Race Valley, pista de arrancada que não tem nenhuma ligação com o novo empreendimento. Uma de suas características do novo empreendimento é a oferta de 90 lotes de 1.000 m2 e destinados à construção de garagens e sedes de equipes.
Fator importante desta novidade é que Chapecó e Tremembé são iniciativas privadas e Cuiabá tem amplo apoio dos agricultores da região, todos muito influentes na política local. Na semana passada foi anunciada a realização de uma prova de Stock Car, em abril, em circuito montado em uma pista secundária do aeroporto do Galeão, promoção que reinsere o Rio de Janeiro no calendário nacional do automobilismo.
Não bastasse isso, o Nordeste volta a aparecer no cenário nacional: os circuitos de Caruaru (PE) e Euzébio (CE) voltaram a receber atenção do setor público e há negociações para que sejam recuperados no ano que vem.
Em São Miguel do Taipu funciona o Autódromo Internacional da Paraíba, outra iniciativa privada, já mostrou potencial para tornar João Pessoa (o local fica a 40 km da capital paraibana) o principal polo do esporte a motor do Nordeste.
Em Manaus (AM) e Paço do Lumiar (MA) já funcionam duas pistas de arrancada, especialidade que reúne um grande número de adeptos da região.
Outro fato que merece destaque neste ano é o avanço da Turismo 1.4, categoria nascida no Rio Grande do Sul e que em 2022 ganha um regulamento nacional.
A receita de usar um motor único (o Econoflex/Flexpower 1.4 da Chevrolet) e padronizar itens como escapamento, pneus, molas, amortecedores e unidade de gerenciamento eletrônico contribuem para manter cursos baixos e aumentar o grid.
Tal receita se compara positivamente com a categoria 1.6, cujo regulamento muito mais permissivo permite o uso de soluções mais caras, fato que tem provocado o esvaziamento do grid.
Ainda com relação à Turismo 1.6: no início do ano a Vicar, principal promotora do automobilismo brasileiro, comprou os direitos da categoria, o que vislumbrou o crescimento da categoria.
Não foi isso que aconteceu: o potencial da modalidade não foi explorado ou promovido e há comentários de que a Copa Shell HB20 poderá ser incorporada ao calendário da Stock Car Pro Series. Se isto acontecer não será surpresa se a Turismo 1.6 viver um 2022 moribundo ou mesmo acabar antes disso.
A mesma Vicar anunciou para o ano que vem a disputa do Campeonato Brasileiro de F-4-FIA, categoria internacional que é classificada como primeiro passo dos pilotos que sonham com o profissionalismo, mais especificamente, a F-1.
A especialidade usará chassis Tatuus de segunda geração e motores Fiat Abarth, ambos fabricados na Itália, com previsão de validade para três anos. A novidade pode ser uma oportunidade interessante para desenvolver um equipamento similar no País.
Tanto quanto empregos e impostos, um programa dessa natureza tem potencial para colocar o Brasil como fornecedor de carros para países da América do Sul e de outros continentes que sofrem com a constante valorização do dólar e do euro.