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No ano passado, três carretas estacionaram no prédio da Secretaria de Educação de Barueri, um município com 274 mil habitantes na Região Metropolitana de São Paulo, e descarregaram 4.400 laptops para distribuição a professores e alunos das escolas municipais. Remessas anteriores já tinham entregado outros 10.700 computadores portáteis, e o plano da prefeitura é chegar a 30 mil unidades.

O que chama atenção à primeira vista, além da decisão positiva de fornecer computadores a estudantes de escolas públicas, é o fato de todos aqueles 15.100 laptops serem Chromebooks, um modelo que utiliza o sistema Chrome OS do Google em vez do Windows ou do MacOS e que ganha força por causa de diferenciais como simplicidade e custo mais baixo.

De acordo com um relatório da Canalys de novembro de 2021, as vendas de Chromebooks registraram forte evolução a partir do segundo trimestre de 2020, logo depois do início da pandemia de covid-19 que trancou as pessoas em casa. A partir daí o crescimento foi vertiginoso. De 9% de share no mercado global de computadores portáteis no primeiro trimestre daquele ano, os Chromebooks saltaram para 12%, 14% e 16% de participação nos três semestres seguintes.

Em 2021 o crescimento se manteve até atingir 18% de share no primeiro e no segundo trimestre, até que no terceiro trimestre, entre julho e setembro, a participação dos Chromebooks encolheu para 9%, exatamente o mesmo nível do início de 2020. Essa queda pode ter sido uma surpresa para a maior parte dos analistas, mas tem uma explicação.

“A participação dos Chromebooks caiu porque os principais mercados mundiais de educação atingiram o nível de saturação na demanda por computadores portáteis. Nos países desenvolvidos – ou nos municípios mais ricos de outras regiões do mundo – que têm condições financeiras para comprar computadores para as escolas, quase todos os estudantes e professores já receberam o seu”, explica Samir Vani, country manager da MediaTek no Brasil, empresa que lidera o mercado de processadores para smartphones, segundo dados da consultoria Counterpoint Research

De acordo com com a consultoria IDC, apesar da volatilidade do mercado, as vendas mundiais desse equipamento fecharam o ano passado com crescimento de 13,5% em relação ao ano passado, com fabricantes como Lenovo ampliando suas vendas em mais de 20%

Para o bem e para o mal, a imagem do Chromebook foi atrelada ao uso em escolas ou em ambientes corporativos em que as tarefas são pouco complexas.  Mas o Chromebook não é apenas “um portátil mais simples e baratinho” ou o “notebook do Google”. A cada dia são lançados modelos com novos recursos, mas, para avançar além das demandas específicas da pandemia e disputar o mercado de igual para igual em qualquer cenário, será preciso se livrar dessa imagem. “O Chromebook foi o grande vencedor em 2020, no mercado de computadores e tem um futuro promissor”, avalia Isan Dutt, analista da consultoria Canalys.

Essa percepção se baseia, sobretudo, no potencial de vendas para o setor educacional nos mercados emergentes, a fim de suprir o imenso número de escolas que ainda não conseguiram fornecer computadores a seus alunos. “A demanda por Chromebooks cresceu nos mercados emergentes de forma contínua em 2021”, destaca Jitesh Ubrani, gerente de pesquisa da consultoria IDC para a área de mobilidade.

O crescimento acelerado entre 2020 e 2021 pode ser atribuído à rubrica “compras inadiáveis”, mas a expectativa é de que os Chromebooks encontrarão um ritmo estável de aceitação fora das salas de aula e conquistarão espaços mais amplos entre os usuários que querem pouco mais do que navegar pela internet, assistir a filmes e séries e produzir e editar textos e planilhas, ou seja, a maioria das pessoas.

Os grandes fabricantes compraram a ideia e fornecem Chromebooks cada vez mais sofisticados, com recursos como processadores para inteligência artificial e câmeras HDR. Mas será que o conceito vai “pegar” no Brasil? “Provavelmente sim, à medida que os consumidores absorverem os prós e os contras de um modelo de notebook mais enxuto e acessível. É um produto com muito potencial, e é preciso ficar de olho no desempenho que terá no mercado no primeiro semestre de 2022”, afirma Samir Vani, country manager da MediaTek no Brasil.